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'Orem por nós', diz palestino que viveu 16 anos no Brasil e está no sul de Gaza

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Por Redação em 13/10/2023 às 22:02:35
Mohamed Al-Assar não será resgatado porque não tem cidadania, mesmo vindo com oito meses para o Rio de Janeiro. Ele está recebendo dezenas de familiares no sul de Gaza, onde eles têm apenas pão para comer. Mohamed Al-Assar, palestino que viveu 16 anos no Brasil

Arquivo pessoal

A última mensagem que Mohamed Al-Assar, 32, enviou foi: "orem por nós", logo após saber que Israel deu 24 horas para que os civis cruzassem Gaza de norte a sul. Em um áudio, ele descreveu: "está muito difícil, todo mundo está vindo do norte, mulheres crianças."

O engenheiro civil, que vive no sul de Gaza, já havia recebido no prédio de três andares parte dos familiares que perderam a casa em bombardeios nos últimos dias. Mas nesta sexta-feira (13) outras 10 famílias foram acolhidas por ele após o ultimato israelense.

Antes disso, a falta de comida já preocupava Mohamed. "A alimentação é muito difícil, é só o básico: pão. Se conseguir um ovo frito, é como se você fosse para um restaurante", disse à GloboNews, em um dos poucos momentos em que conseguiu internet, embora ainda estivesse no breu, causado pelo corte de luz.

No único momento em que ele saiu para comprar comida para a família, uma bomba caiu a apenas 200 metros. "Eu fui comprar alimento no meio da guerra e quando eu tava lá na cidade caiu uma bomba muito perto de mim", contou.

Mohamed já passou por cinco guerras. Ele nasceu nos Emirados Árabes e veio para o Brasil com apenas oito meses, após a família deixar o país por causa da guerra do Golfo.

Ele morou por 16 anos no Rio de Janeiro, até que em 2006 voltou para Gaza para visitar a família. Desde então, foram sucessivas guerras que não o deixaram sair da região.

Mohamed Al-Assar, palestino que viveu 16 anos no Brasil, com o filho

Arquivo pessoal

"Eu vi a guerra de 2008, 2012, 2014 e 2021, mas nenhuma está sendo nem de perto igual a essa, que está muito mais sangrenta. Estão destruindo tudo, bairros inteiros", diz. "Não teve trégua até hoje nessa guerra. Em 2014, a guerra durou 50 dias, mas tinha tréguas de 6 horas, de 24 horas, para poder sair, comprar as coisas básicas."

Como não nasceu no Brasil e não conseguiu concluir o pedido de cidadania brasileira, ele não pode pedir resgate ao Itamaraty, como os 22 brasileiros que estão recebendo apoio para serem retirados da região.

Sua maior preocupação é com os dois filhos, de 2 e 4 anos. "Eu, minha esposa, minha mãe, a gente entende o que é a guerra. Mas uma criança pequena não tem como entender, quando ouve barulho de bombas descendo, subindo. O que você vai explicar para ela? Eu tento dizer que é uma festa", narra. "Nós ficamos com medo, mas a situação mais difícil é você ver seus filhos com medo."

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Ele deu entrevista no último andar da casa, onde tinha internet. Mas também era o menos seguro: está de frente para o mar de Gaza, de onde Israel tem enviado uma série de ataques de navios contra a cidade.

"Lá tem navios de guerra, quando eles atacam, aí tenho medo de pegar aqui na janela, por erro ou por acerto. O outro lado da casa já é mais seguro um pouco", diz sobre o térreo e embaixo das escadas, onde todos se juntam, na tentativa de se proteger.

A família têm carregado celulares com baterias extras, geradores e nas poucas horas que a energia é restabelecida.

Mohamed diz, resignado, que não tem mais o que possam fazer. "Todo mundo em Gaza já tem um parente ou amigo morto. A morte já entrou em todas as casas". Sem saída, "no momento o que resta é esperar acabar a guerra", diz.
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