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'Eu amo a minha vida, mesmo que eu tenha HIV'; diz mulher que descobriu o vĂ­rus na hora do parto

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Por Redação em 01/12/2023 às 02:13:00
Dia Mundial de Luta contra Aids é celebrado nesta sexta-feira (1Âș). G1 conta histórias de quem convive com vírus. Dia Mundial de Luta contra a Aids

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O Dia Mundial de Luta contra a Aids é celebrado nesta sexta-feira (1Âș). Dados do Ministério da Saúde, divulgados na quinta (30), mostram que quase 11 mil brasileiros morreram em 2022 tendo o HIV ou a Aids como causa básica.

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Foram registrados 43.403 casos de HIV no ano passado, e a estimativa é que um milhão de pessoas vivam com HIV no Brasil. A mulher que vamos chamar de Alice, porque prefere não se identificar por medo do preconceito – "que ainda existe", diz ela – é uma dessas pessoas.

"Eu amo a minha vida, sou importante para Deus, mesmo que eu tenha HIV", diz Alice.

A moradora do Distrito Federal tem 43 anos e descobriu que estava com o vírus HIV após o parto, 13 anos atrás. Ela conta que não havia feito o exame para detectar o vírus no pré-natal, e que o teste rápido foi na maternidade foi feito somente um dia após o parto.

Sem saber que estava infectada, ela amamentou o filho. A falta de informação levou à transmissão vertical, que é aquela de mãe para filho (saiba mais abaixo) e o bebê acabou contaminado.

"Eu tive esse problema que mexeu com o meu psicológico, eu amamentei o meu filho porque o médico não pediu o teste rápido no dia do parto. Na troca de plantão, eles descobriram e o médico veio falar comigo porque eu estava amamentando se era soropositivo. Eu não sabia, fiquei em choque e quis quebrar o hospital", conta.

Mãe solo, ela começou o tratamento logo depois. O filho, que hoje tem 13 anos, também usa medicação. Alice diz que a vida segue "normal", no entanto, ela não consegue esquecer o fato de ter contaminado o próprio filho.

Transmissão vertical do HIV

A transmissão do HIV – que é o vírus causador da Aids – de mãe para filho pode ocorrer durante a gestação, no parto, ou na amamentação. Por isso, segundo o Ministério da Saúde, as gestantes e também os seus parceiros sexuais devem fazer o teste para HIV.

"O diagnóstico e o tratamento precoce podem garantir o nascimento saudável do bebê", diz o Ministério da Saúde.

Claudia Velasquez, diretora e representante do UNAIDS Brasil, diz que a taxa de detecção do HIV em mulheres gestantes tem se mantido estável nos últimos anos, representando um avanço importante para o país. Mas ela ainda é maior entre as mulheres mais pobres.

"A transmissão vertical ainda atinge de forma desproporcional mulheres em situação de maior vulnerabilidade social, sendo um desafio a garantia do acesso aos serviços de saúde e sem as barreiras do estigma e da discriminação ao HIV", diz Claudia Velazquez.

Segundo a UNAIDS, é fundamental que os governos de todo o mundo trabalhem nas pequenas comunidades locais para que elas liderem a luta pelo fim da AIDS. "Nesse sentido, precisamos trabalhar no cuidado centrado nas mulheres e no fortalecimento da sociedade civil nas respostas locais à transmissão vertical", diz a diretora.

'Sentença de morte', diz homem contaminado aos 19 anos, em 2008

João Geraldo Netto, de 41 anos, contraiu HIV em 2008, quando tinha 19 anos. À época, diz ele, os exames levavam semanas e ainda era preciso um segundo exame confirmatório

"No total, eram quase dois meses de angústia e sofrimento. Ao mesmo tempo, o SUS não liberava o tratamento a não ser que estivéssemos em estágio de AIDS, com CD4 (imunidade) abaixo de 250 ou a quantidade de vírus no sangue (carga viral) maior que 100 mil", diz João.

O diagnóstico era uma espécie de sentença de morte ou, pelo menos "a certeza de que a pessoa só seria resgatada quando o barco já tivesse afundado e tivesse com a água pelo pescoço", diz ele. O organismo de João conseguiu segurar a infecção. Durante 10 anos ele ficou bem, sem necessidade de medicação.

Em 2013, o Ministério da Saúde criou o primeiro protocolo de tratamento do HIV e incluiu o tratamento para pessoas HIV+ que estavam em um relacionamento com alguém que não vivia com o vírus (relacionamento sorodiferente), mesmo sem ter adoecido. Para João, aquele foi um momento marcante.

"Hoje, percebo um avanço enorme no nosso SUS, ao oferecer o tratamento a qualquer pessoa diagnosticada, mesmo que tenha sido infectada há poucas semanas", diz ele.

João teve o diagnóstico de soropositivo antes de adoecer e não tem sequelas causadas pelo HIV. No entanto, desenvolveu problemas de saúde que podem ter tido origem na infecção longa (cerca de 10 anos) e sem tratamento, como neuropatia periférica e doenças autoimunes.

Ele diz que isso não impacta em sua qualidade de vida. João segue o tratamento à risca e faz acompanhamento permanente.

"Com o acesso ao medicamento antirretroviral e a adesão eu consigo fazer absolutamente tudo que uma pessoa que não vive com HIV pode fazer, desde ter uma vida sexual ativa e sem grilos, até viajar, trabalhar e ter uma boa qualidade de vida", conta João.

'Sorofobia'

A mãe solo que contaminou o filho, que chamamos de Alice, diz que o maior problema atualmente, em relação ao HIV, ainda é o preconceito. Ela conta que ele existe, inclusive na família.

"A única pessoa que ainda tenho contato, que ainda vai na minha casa, é meu pai e meu irmão, que sempre gostaram muito de mim. As outras irmãs se afastaram e não quiseram mais se aproximar", diz ela.

O mesmo relato é feito por João. Ele diz que apesar de ter tido uma série de privilégios desde que nasceu, a sorofobia – preconceito e discriminação contra pessoas que vivem com HIV – chegou até ele.

"Depois das eleições de 2022, após circular um vídeo meu criticando um pastor da cidade onde nasci, participantes de um grupo do WhatsApp se irritaram com minhas e, para tentar me desqualificar e ofender, atacaram a minha sorologia e minha sexualidade. Fiz um boletim de ocorrência, mas a polícia acabou não dando andamento, apesar de isso ser um crime previsto em lei", conta.

HIV e Aids no Distrito Federal

Segundo a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, de 2018 a 2022, foram notificados 3.684 casos de infecção pelo HIV e 1.333 casos de Aids. Nesse período, houve uma tendência de redução do coeficiente de detecção de Aids por 100 mil habitantes, de 9,8 no ano de 2018, para 7,3 no ano de 2022.

Questionada pelo g1 sobre a transmissão vertical, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal diz que não há um levantamento.

Em relação ao HIV, o DF mantém uma tendência de estabilidade, com pequena queda em 2022. Veja números abaixo:

Casos de HIV/AIDS registrados no DF entre 2018 e 2022

Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF)

Qual a diferença entre HIV e AIDS?

Segundo o Ministério da Saúde, a Aids é a doença causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV é a sigla em inglês). Esse vírus ataca o sistema imunológico, que é o responsável por defender o organismo de doenças.

As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+. O vírus é capaz de alterar o DNA dessa célula e fazer cópias de si mesmo. Depois de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção.

O HIV é um retrovírus, classificado na subfamília dos Lentiviridae. Esses vírus compartilham algumas propriedades comuns, como por exemplo:

Período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença

Infecção das células do sangue e do sistema nervoso

Supressão do sistema imune

Tratamento para HIV

Célula infectada por partículas do vírus HIV, anexas à superfície

National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID)

Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Eles ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico e reduzem o número de internações e infecções por doenças oportunistas, aumentando a qualidade de vida de quem tem o vírus.

Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente os ARV a todas as pessoas que vivem com HIV e que necessitam de tratamento. Atualmente, existem 22 medicamentos, em 38 apresentações farmacêuticas.

O que transmite HIV

O Ministério da Saúde informa que a transmissão do HIV e, por consequência da Aids, acontece das seguintes formas:

Sexo vaginal sem camisinha

Sexo anal sem camisinha

Sexo oral sem camisinha

Uso de seringa por mais de uma pessoa

Transfusão de sangue contaminado

Da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação

Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados

O que NÃO transmite HIV

Sexo, desde que se use corretamente a camisinha

Masturbação a dois

Beijo no rosto ou na boca

Suor e lágrimas

Picada de inseto

Aperto de mão ou abraço

Sabonete / toalha / lençóis

Talheres/copos

Assento de ônibus

Piscina

Banheiro

Doação de sangue

Pelo ar

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