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Saiba por que mergulhar na água não é uma boa opção após picada por abelha

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Por Redação em 18/12/2023 às 16:47:06
Abelhas continuam voando na área por um bom tempo, o que dificulta saída da pessoa para respirar. Múltiplas picadas podem levar indivíduo ao choque anafilático. Recomendação de biólogos é que, em caso de picada de abelha, o indivíduo não tente mergulhar para fugir do enxame

Gender Euphorbia/iNaturalist

Na última semana, um caso de ataque de abelhas que acarretou na morte de um homem de 65 anos na região rural de Engenheiro Coelho (SP) ganhou repercussão.

Ele tentou correr em direção a um córrego próximo de sua casa, mas não conseguiu se livrar do enxame. Mas será que procurar por água é a melhor solução? O Terra da Gente conversou com especialistas que ajudaram a responder algumas dúvidas sobre isso.

Provavelmente a vítima do acidente Alan Carlos Haeck, que estava com a família em casa no momento da "invasão" das abelhas, orientou que todos corressem para o córrego com o intuito de dispersar os insetos após a entrada na água.

A bióloga Jaqueline Aparecida da Silva explica que, ao pular na água por desespero, a pessoa pode acabar se afogando, já que as abelhas continuarão voando por vários minutos próximo a área. "Assim que a pessoa colocar o corpo para fora elas atacarão da mesma forma", afirma.

Além disso, ela reforça que, se essa pessoa já recebeu alguma picada, a reação inflamatória pode obstruir as vias respiratórias e causar asfixia.

O recomendado é procurar o hospital mais próximo, mas se a pessoa está em uma área remota é necessário retirar os ferrões raspando com lâmina, faca, cartão de crédito, o que tiver no momento. Nunca usar pinças, porque isso resulta na inoculação do veneno ainda presente.

"Após a picada, a abelha deixa o ferrão e morre, diferentemente do marimbondo, por exemplo. O ideal é sempre estar com alguém nesse momento porque quanto mais rápido você remover o ferrão, mais rápido você irá interromper esse fluxo de toxinas", completa Jaqueline.

De acordo com o biólogo Thiago Araújo de Jesus, a recomendação em caso de se deparar com um enxame de abelhas é, primeiramente, tentar manter a calma e sair andando devagar.

"A gente sabe que não é um momento fácil, mas não adianta a pessoa pegar um galho e sair tentando espantar as abelhas porque elas são muitas. A melhor opção é cobrir o corpo com o que tiver, seja um lençol, um casaco. Sabemos que a picada dói, mas se você sai correndo o seu organismo acelera e é ainda mais fácil daquele veneno se espalhar", diz ele.

Embora muitas pessoas orientem correr em zigue-zague, Thiago explica que a ação não tem efeito positivo, pois as abelhas vão continuar acompanhando e a pessoa ainda corre o risco de tropeçar em galhos e bater em árvores no momento do desespero.

Múltiplas picadas de abelha pode levar pessoa a entrar em choque anafilático, mesmo não sendo alérgica

Dirceu Martins

"Uma hora o enxame vai se despistar, ele não vai percorrer grandes distâncias, até porque ele tem que voltar para fazer a proteção do ninho", reforça.

Abelhas durante pescaria

Quem está acostumado a pescar por aí já deve ter se deparado com colmeias ou enxames em algum momento. Na natureza, elas podem ser encontradas em vários lugares, mas os mais comuns são em ocos de árvores, cupinzeiros desocupados, buracos de barrancos ou no beiral de telhados.

Então, imagine o seguinte cenário: você irá sair para uma aventura de pesca em um rio muito afastado da cidade. O que fazer para prevenir picadas de abelha?

Enxames de abelhas podem ser encontrados em vários lugares, mas os mais comuns são em ocos de árvores, cupinzeiros desocupados, buracos de barrancos no beiral de telhados.

Reprodução/EPTV

"Se você sabe que está indo para um local propício para abelhas, evite usar cores brilhantes e chamativas, perfume, spray de cabelo. Elas podem reagir agressivamente a esses odores, assim como barulho, então um caminho pode ser não ficar gritando e com som alto. Além, é claro, do uso irrestrito de roupas de proteção para entrar em florestas ou permanecer dentro do barco", pontua Jaqueline.

O biólogo Thiago Araújo de Jesus destaca que beiras de rio ou de lago são regiões propícias para aparição de abelhas, mas isso depende muito da época do ano.

"No período de enxameação, que ocorre na época das floradas, normalmente de março a junho, e que consiste na divisão reprodutiva natural das colônias, os acidentes com abelhas podem ser mais frequentes na cidade". No entanto, o período varia conforme o bioma e as condições climáticas.

"O que acontece é que a abelha princesa, quando está em época fértil, ela resolve sair de sua colônia para criar uma nova. Nesse tempo, algumas abelhas da colônia originária dela vão acompanhando ela, mas não conseguem voar por muito tempo, então elas param, por algumas horas, de forma temporária. É aí que geralmente acontecem acidentes", comenta Thiago.

Acidentes mais comuns são com picadas de abelhas-europeias (Apis mellifera)

Kathryn Wells/iNaturalist

Morte por picada

Segundo Thiago Araújo, morte por picadas de abelhas acontecem em casos bem específicos: quando a pessoa é alérgica ao veneno da abelha ou quando há múltiplas picadas e a pessoa entra em choque anafilático, mesmo não sendo alérgica.

"É por isso que não recomendamos mergulhar, porque dependendo da quantidade de ferrões que estão grudados no corpo a pessoa não vai conseguir nadar. As abelhas continuam voando em volta da pessoa por conta do feromônio que é liberado quando o ferrão cessa".

"Então a abelha que te pica, ela vai morrer, mas o feromônio que ela solta atrai mais abelhas ainda. Esse feromônio causa o instinto de atacar, por isso é comum o enxame picar e ainda perseguir a pessoa por alguns metros", acrescenta o biólogo.

Abelhas com ferrão

Os acidentes mais comuns são com picadas de abelhas-europeias (Apis mellifera), de acordo com Thiago. Essa abelha possui ferrão serrilhado e só pica para defender o ninho. O ferrão fica preso na pele junto com uma bolsa de veneno e um pedaço do intestino da abelha e é por isso que ela morre.

Quando essa bolsinha de veneno e cheia de feromônios estoura, solta um sinal de alerta para que outras abelhas operárias venham socorrer e proteger o ninho de um possível invasor.

Apis mellifera possui ferrão serrilhado, o que significa que o indivíduo morre quando pica

John Walter/iNaturalist

No Brasil, há registros de entorno de 1.800 espécies, sendo cerca de 1.400 com ferrão. Esse ferrão pode ser serrilhado ou liso.

"Com ferrão serrilhado temos a Apis mellifera, já com o ferrão liso temos a Xylocopa sp. e a Bombus sp. No caso do serrilhado as abelhas morrem quando picam, já as de ferrão liso isso não ocorre, pois elas consegue ferroar várias vezes sem afetar sua saúde", afirma o biólogo ao destacar que dessas com ferrão há algumas que não causam perigo algum por viverem em áreas remotas e afastadas do centro urbano.

Por conta da alta produtividade de mel, a Apis mellifera é a espécie de abelha mais criada no Brasil e no mundo. Ela é conhecida popularmente por nomes como abelha-da-Europa, abelha-do-mel, abelha-melífera, abelha-africana ou abelha-africanizada. Embora seja criada em nosso país, ela é exótica.

"A abelha Apis mellifera que temos no Brasil é uma mistura da abelha-europeia com a abelha-africana (Apis mellifera scutellata) - ambas introduzidas na América. Elas são originárias do cruzamento entre essas duas e hoje são chamadas de abelhas-africanizadas".

"Essa 'híbrida' que temos aqui manteve as características morfológicas e comportamentais das abelhas-africanas, então são muito agressivas. Ela tem uma capacidade de se adaptar às condições climáticas do Brasil e de resistir a pragas e doenças que é impressionante então, mesmo no inverno, ela continua seu trabalho produtivo, o que não ocorre com a abelha-europeia, que acaba se recolhendo em temperaturas baixas", conclui Thiago.

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