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Quatro universitários são expulsos pela Unesp por trote violento que deixou aluna em coma no interior de SP

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Por Redação em 05/01/2024 às 20:28:28
Caso aconteceu em julho do ano passado, mas a punição foi publicada Diário Oficial de SP em dezembro e comunicada pela universidade nesta semana. Vítima chegou a ficar internada na UTI após trote em que foi obrigada a beber. Quatro universitários são expulsos pela Unesp por trote violento que deixou aluna em coma no interior de SP.

Foto 1: Helena Soares/Alumni Unesp | Foto 2: Arquivo pessoal

Quatro alunos da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Guaratinguetá (SP) foram expulsos por conta de um trote violento contra uma universitária de 21 anos, que chegou a ficar em coma e foi internada na UTI por conta de complicações de saúde provocadas pelo trote.

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O caso aconteceu em julho de 2023, mas os desligamentos foram comunicados oficialmente pela faculdade, em uma nota nas redes sociais, na última quarta-feira (3).

Além disso, a expulsão foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo no fim do ano passado, em 19 de dezembro.

Unesp de Guaratinguetá

Divulgação/Unesp

O caso

O caso aconteceu na noite do dia 4 de julho de 2023. A vítima é a universitária Fernanda Pereira Gimenez, moradora de Atibaia. Ela tem 21 anos.

Fernanda ingressou na Unesp de Guaratinguetá em 2021, quando foi aprovada no curso de engenharia civil e passou a morar em uma república estudantil.

No início de 2023, ela mudou de república por questões de relacionamento e, por entrar em uma nova, precisou cumprir tarefas e obrigações como se fosse uma caloura.

Calouros são estudantes recém-chegados a uma instituição de ensino. É tradicional em diversas universidade do país que calouros paguem prendas durante o primeiro ano da faculdade.

"Por conta da troca, é preciso pagar trotes de novo. Ficou combinado que em festas eu não precisaria pagar trote, mas que na casa, sim, e que eu seria considerada caloura", explica Fernanda.

A universitária Fernanda Pereira Gimenez ficou internada na UTI por conta de um trote na Unesp de Guaratinguetá

Arquivo pessoal

No dia 4 de julho, Fernanda e uma outra caloura da república deixaram de cumprir uma das obrigações impostas pelas veteranas e, por conta disso, precisaram pagar trote em outras repúblicas da cidade.

Foi em uma delas - uma república masculina - que o trote violento aconteceu. A universitária e a colega foram obrigadas a pagar seguidas séries de flexões e a consumir bebidas alcóolicas, que eram misturadas com diversos ingredientes, como vinagre, pó de café, mostarda, sal, feijão e pimenta.

"Prepararam mais de um litro dessa bebida de cachaça, com muita pimenta calabresa e outros ingredientes. Precisávamos seguir algumas orientações e, caso não conseguíssemos, tínhamos que beber", lembra a estudante, que conta que o trote só foi encerrado quando a garrafa de cachaça acabou.

A universitária Fernanda Pereira Gimenez ficou internada na UTI por conta de um trote na Unesp de Guaratinguetá

Arquivo pessoal

Internação

Fernanda passou mal por conta do trote e ficou desacordada. Outros universitários que estavam no local acionaram uma ambulância, que a levou para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Guaratinguetá.

"No hospital, meu corpo perdeu qualquer estímulo nervoso e parou de respirar, então me sedaram e me intubaram", conta Fernanda.

No mesmo dia, ela foi encaminhada à Santa Casa da cidade, onde foi transferida para a UTI por conta do estado de saúde. Fernanda conta que correu risco de vida.

"Eu estava sem sinais vitais e não conseguia respirar. No hospital, tiraram muito líquido do meu pulmão. Tiraram um raio-x que mostra uma parte dele toda branca. Um médico me falou que o pior agravante foi broncoaspiração (entrada de substâncias estranhas, tais como alimentos e saliva, na via respiratória), pois eu tentava vomitar e não conseguia", explica.

Raio-X do pulmão de Fernanda Pereira Gimenez mostra parte branca por conta das complicações de saúde do trote

Arquivo pessoal

A universitária deixou a UTI no dia 7 de julho e teve alta do hospital no dia 9. Apesar disso, até hoje ela convive algumas sequelas.

"Nos dois primeiros meses eu não conseguia ficar muito tempo em pé. Sentia fraqueza e tontura. Isso melhorou, mas hoje ainda sinto um tremor na mão quando faço atividade física", conta.

A universitária Fernanda Pereira Gimenez ficou internada na UTI por conta de um trote na Unesp de Guaratinguetá

Arquivo pessoal

Denúncia

A universitária decidiu deixar a Unesp depois do episódio. Ela transferiu o curso e hoje faz engenharia civil na Universidade São Francisco, em Bragança Paulista, cidade vizinha de Atibaia.

"Quando saí do hospital eu queria tentar ficar lá, porque tinha estudado e me esforçado muito para entrar. Mas fiquei muito mal, principalmente de saúde mental, e decidi sair. Vi que não seria possível continuar lá", lembra Fernanda.

Antes de deixar a Unesp, porém, Fernanda denunciou o caso à direção da universidade e registrou um boletim de ocorrência. Desde então, a universidade abriu uma investigação, que terminou com a expulsão dos quatro alunos.

Além deles, outros cinco foram identificados como participantes do trote violento. Quatro deles foram suspensos por 120 dias e um por 45 dias.

"Fiquei com receio de denunciar as pessoas que participaram, mas percebi que se tratava de um problema muito grave e que ninguém nunca havia denunciado. Demorou (para sair a punição), mas é o que precisava ter acontecido."

"Quando denunciei, vi comentários de que eu tinha sido babaca e pegado muito pesado, mas hoje tenho certeza que foi a decisão certa. Até porque não quero que novos calouros passem pelo que eu passei", diz.

O que diz a Unesp?

Na nota publicada nas redes sociais, a Unesp trata o caso como um 'trote violento' e informa que o processo disciplinar aberto por conta dele foi encerrado com "a penalidade de desligamento contra quatro discentes diretamente envolvidos com a aplicação do trote".

Unesp de Guaratinguetá emitiu um comunicado sobre o caso nas redes sociais

Reprodução

Além disso, cita que "por estarem envolvidos em diferentes medidas com o episódio, o Ilmo. Diretor da FEG aplica a penalidade de suspensão por 120 dias contra quatro discentes e aplica a penalidade de suspensão por 45 dias contra um discente".

Ainda de acordo com a nota, a universidade informa que um inquérito policial por lesão corporal foi aberto no 2º Distrito Policial de Guaratinguetá, e que a instituição foi acionada para a Polícia Civil para envio de ficha contendo qualificação e fotos dos alunos, o que já foi providenciado.

A Unesp comunicou que serão criadas "campanhas permanentes de conscientização e combate ao trote e para que seja criado um memorial de vítimas do trote, ações essas que devem ficar à cargo da Comissão Local de Direitos Humanos."

2º Distrito Policial de Guaratinguetá

Reprodução/Street View

O que diz a Polícia Civil?

O g1 acionou também a Polícia Civil para saber como estão as investigações, já que um inquérito policial foi aberto.

No início da noite, a Secretaria de Segurança Pública informou que segue investigando cinco jovens após o trote universitário que ocorreu no dia 4 de julho de 2023, na rua Bernardo de Vasconcelos, no bairro Nova Guará, em Guaratinguetá.

Segundo o boletim de ocorrência, uma jovem, de 21 anos, contou ter sido obrigada a ingerir bebida alcoólica até perder a consciência e ser encaminhada à UPA da região.

Ainda segundo a SSP, o caso foi registrado na Delegacia Plantão de Atibaia e "diligências seguem para esclarecimento dos fatos".

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