TV NEWS

Rodriguinho, Ivo Meirelles ou Belo: quem criou o cabelo 'loiro pivete'? g1 desvenda origens do visual

.

Por Redação em 19/01/2024 às 05:01:34
Músico que fez parte de Os Travessos e está no 'BBB 24' afirma ser o criador do visual, que bombou na década de 1990, sobretudo no pagode. Rodriguinho, Ivo Meirelles ou Belo: quem criou o cabelo 'loiro pivete'?

Um dos nomes do "BBB 24" mais comentados nas redes, Rodriguinho afirma ser o criador da moda de cabelo masculino descolorido. Em mais de uma entrevista, o brother atribuiu a ele a onda de músicos loiros no fim dos anos de 1990.

"Todos eles [me copiaram]. Eu fui o primeiro a fazer isso. E aí todo mundo [copiou]", disse o artista no podcast "Podpah", sete meses atrás. Rodriguinho, no entanto, não é o precursor da estética.

Ivo Meirelles e sua banda, Funk n' Lata, já eram loiros pelo menos dois anos antes de o paulista começar a fazer sucesso, em 1997, nos Travessos, grupo que emplacou hits como "Quando a Gente Ama" e "Tô Te Filmando".

Ivo Meirelles

Reprodução

O samba dos 'crilouros'

Gravado em 1995, o videoclipe "Não é Mole, Não!" mostra Ivo e todos os integrantes do Funk n' Lata com suas madeixas amareladas, dançando ao som de gemidos eróticos e um arranjo que vai do samba ao charme.

Em várias cenas, suas cabeças aparecem coladinhas, realçando o chamado "loiro pivete". Alguns músicos têm até o bigode descolorido.

Cena do clipe 'Não é Mole, Não', do Funk N' Lata

Reprodução/YouTube

Em outro vídeo do mesmo ano, Ivo lê um jornal com a manchete "o samba dos 'crilouros'", em referência ao visual chamativo do Funk n' Lata.

A mesma estética estampou a capa do disco de 1996, e a foto foi recriada pelos músicos em 2017.

"Em Nova York, vi o Terence Trent d'arby loiro e achei interessante, porque você via, nas ruas, mulheres de cabelo descolorido, mas homem, não", conta Ivo em entrevista ao g1. "Descolori o meu para ver como ficava. Cheguei ao Brasil e fiz a banda inteira pintar também."

A cronologia do 'loiro pivete'

Juan Silva/g1

Pagodeiro e loiro

Mas o visual não ficou restrito a eles. Em 1997, havia outros artistas loiros, sendo a grande maioria do pagode. Os mais famosos eram Rodriguinho, Chrigor, do Exaltasamba, e Belo, do Soweto. Três cantores que descolorem os fios até hoje.

Rodriguinho diz que aderiu ao cabelo quase sem querer, após uma tentativa de tingi-lo de vermelho. O pagodeiro teria descolorido os fios para passar o colorante, mas, atrasado para um show, não teve tempo de pintar a cabeça.

Capa de 'Farol das Estrelas', de 1999

Reprodução

Ele conta que tentou esconder os fios do público por vergonha. Os Travessos, porém, lhe obrigaram a mostrar. Para sua surpresa, a plateia ficou em êxtase e aplaudiu. Daí, sim, ele decidiu manter o loiro.

Em 2014, Chrigor afirmou que descoloriu o cabelo inspirado no Funk N' Lata. "Mas o Rodriguinho já pintava. É que ele ainda era independente. Foi Rodriguinho primeiro, eu e depois o Belo", disse ao Terra.

O vídeo de "Noite Fria" do projeto Samba Cura, de 1997, mostra o ex-travesso loiro ao lado de Belo moreno.

Capa de 'Desliga e Vem', do Exalsamba

Reprodução

Loiro pivete

Até então, no Brasil, não era muito comum que homens tingissem o cabelo. A coloração capilar, aliás, já foi bem diferente da que conhecemos hoje.

Desde Idade Antiga, pessoas de diferentes cantos do mundo pintam as madeixas. Até o início do século 20, os métodos eram exclusivamente caseiros (e bem perigosos), feitos a partir de insetos, sementes e óleos naturais.

Capa de 'Nossa Dança', de Os Travessos

Reprodução

No caso da tintura loira, atrelada durante séculos à prostituição, a situação muda a partir de 1909, com a fundação da L'Oréal pelo químico Eugène Schueller.

Em 1931, o filme "Platinum Blonde" popularizou a cor, com Jean Harlow platinada nas telonas. Mais de duas décadas depois, os fios claros se tornaram febre feminina nos Estados Unidos, graças a uma campanha publicitária da Clairol.

Desde então, cresce cada dia mais a quantidade de tintas e pós descolorantes.

Na favela e no baile

No Brasil dos anos de 1990, o loiro masculino começou a aparecer sutilmente em favelas e bailes negros cariocas, mas se consolidou de vez após a onda dos pagodeiros descoloridos.

O estilo foi popularmente apelidado de "loiro pivete". Há quem considere o termo como racista, já que a estética é atrelada à negritude e "pivete" tem tom pejorativo.

"No contexto das periferias, platinar os cabelos tem a ver com celebração, brincadeira e beleza. Um ritual masculino, periférico, preto", diz Maxwell Alexandre, artista de "Descoloração Global", série de vídeos de pessoas tingindo cabelos de forma caseira.

Obra sem título, de Maxwell Alexandre

Maxwell Alexandre

Vale dizer que, apesar dos constantes avanços da tecnologia capilar, a descoloração apresenta riscos.

O cabeleireiro Caio Costa, que participou do reality "The Cut Brasil", explica que o processo pode prejudicar o couro cabeludo e causar queimaduras na cabeça, se feito de forma errada. "Eu conheço pessoas com coragem para fazer sozinhas e correr esse risco, mas não recomendo."

Ele diz também que o loiro pivete faz sucesso principalmente no verão, quando o clima é luminoso. Por isso, harmoniza tão bem com o loiro.

Obra sem título, de Maxwell Alexandre

Maxwell Alexandre

Do pivete ao nevado

Depois do começo dos anos 2000, a onda do loiro pivete ficou restrita ao verão, mas com menor adesão do que antes. Entre o fim dos anos 2010 e começo dos 2020, o estilo voltou ao destaque, mas repaginado.

Mais claros e menos amarelos do que o cabelo dos pagodeiros, os fios são platinados. O loiro em alta não é mais o pivete, mas sim o nevado — nome pelo qual é conhecido.

Neymar, Gabigol, Caio Castro, Wesley Safadão, MC Ryan SP e Leo Santana são alguns dos famosos que aderiram à estética.

(Da esq. p/ dir.): Gabigol, Neymar, Leo Santana e MC Ryan SP

Montagem (Reuters, Lee Smith, Reprodução)

"O momento que todo mundo quer lançar o nevado é no fim do ano", diz Paulo Henrique, criador do curso "Nevou de Favela", voltado a cabeleireiros. "É uma cultura criada em comunidades. Todo fim de ano, quem é 'cria' lança o nevado."

"As pessoas se inspiram nos MCs, influencers, barbeiros... Antes, tinha um pouco de preconceito, mas hoje isso tá mudando."
Comunicar erro
SPJ JORNAL 2