Horas depois, porém, o presidente da FNSEA (Federação Nacional dos Sindicatos dos Agricultores), maior sindicato agrícola do país, afirmou que ele e seus pares não ficaram satisfeitos. "Tomamos a decisão de continuar esta mobilização", disse Arnaud Rousseau ao canal de televisão TF1.
"Os anúncios do primeiro-ministro não respondem a todas as perguntas que fizemos. Há muitas demandas às quais ele não respondeu. O que foi dito nesta noite não acalma a raiva, é preciso ir mais longe", afirmou Rousseau.
A principal medida tomada pelo governo para aquiescer os fazendeiros foi o fim do aumento gradual do imposto sobre o GNR (gasoil non routier), ou diesel não rodoviário, combustível obrigatório das máquinas agrícolas no país.
O anúncio dela foi feito por Attal em pessoa, em um curral de uma fazenda em Montastruc-de-Salies, perto da fronteira espanhola, sob os olhares de pelo menos 36 vacas e com um monte de feno lhe servindo de púlpito.
"Vamos parar com essa trajetória de aumento do GNR", disse Attal, cedendo assim a uma das principais reivindicações dos agricultores. A legislação em vigor no governo de Emmanuel Macron estabelece –ou estabelecia– um aumento anual desse imposto até janeiro de 2030.
O sistema funciona assim: o agricultor compra um litro de GNR por EUR 1,29 (R$ 6,88), sendo que EUR 0,25 disso (R$ 0,33) é imposto. Após a compra, ele pode pedir reembolso da taxação e receber de volta cerca de EUR 0,18 (R$ 0,96).
A lei atual –que procurava equiparar os impostos sobre o GNR agrícola com aqueles imputados sobre o combustível comum– previa a diminuição, ano a ano, desse montante a ser reembolsado. Assim, se ela se mantivesse até 2030, naquele ano o agricultor pagaria os mesmos EUR 0,25 de imposto e receberia de volta apenas EUR 0,01 (R$ 0,05).
O primeiro-ministro anunciou também que, pelo menos "até o verão" (junho a agosto, na Europa), os reembolsos fiscais serão deduzidos já no momento da compra, e não mais depois após seu recebimento, em uma tentativa de simplificar o processo. A isenção "será feita de imediato", disse ele.
Em seu discurso, Attal ainda criticou o acordo União Europeia-Mercosul, avisando que a França não vai assiná-lo. "Volto a dizer aqui, com muita clareza: o presidente da República sempre se opôs a ele, e nós continuamos e continuaremos a fazê-lo."
O Mercosul e a UE negociam esse acordo há pelo menos 20 anos. Hoje, o que impede sua assinatura são sobretudo questões ambientais. Os fazendeiros franceses, no entanto, reclamam que o texto favoreceria a agricultura sul-americana e traria prejuízos devido ao risco de concorrência desleal. A França é o maior produtor agrícola da União Europeia.
Após a reunião, Gabriel Attal foi a um bloqueio na estrada A64. Perto dali, em Agen, um javali morto foi pendurado em frente ao escritório de um fiscal do trabalho. Em frente à prefeitura da cidade, os manifestantes despejaram lixo e detritos.
Na A13, que liga o noroeste do país a Paris, cerca de 50 agricultores avisaram antes mesmo do pronunciamento do presidente da FNSEA que não tinham se comovido com as medidas anunciadas e continuariam a bloquear a estrada por pelo menos mais esta noite.
Jérôme Canival, que cultiva terras em Surtauville, afirmou ao jornal Le Monde que a ida a Paris não parecia uma boa ideia. "Fui três vezes lá de trator, não adianta. São ótimas fotos, mas somos apenas uma atração." Em compensação, outro agricultor, Matteo Legrand, disse à agência de notícias Reuters ser a favor de ir à capital "para mostrar nossa raiva, as nossas queixas".
Segundo um documento visto pela Reuters, a FNSEA planeja instalar 11 bloqueios nos principais eixos suburbanos em torno de Paris, incluindo as rodovias A6, A10 e A13.
Mais cedo, o ministro da Economia, Bruno Le Maire, afirmou que "a questão central são as receitas dos agricultores", acrescentando que o governo garantiria preços justos a eles.
Le Maire passou meses pressionando gigantes do setor alimentar, como o Carrefour e a Danone, a baixarem os seus preços para o consumidor final, em uma tentativa de fazer frente à alta da inflação.
Despertou com isso a ira dos produtores agrícolas, que dizem enfrentar dificuldades financeiras e sentir que seus meios de subsistência estão sendo ameaçados.
Agora, o ministro prometeu ser "impiedoso" com os mesmos gigantes para ajudar a garantir uma compensação financeira adequada aos fazendeiros.
A poucos meses das eleições europeias de junho, a indignação dos agricultores é motivo de preocupação para Macron, que teme o crescente apoio desse setor à extrema direita antes das eleições para o Parlamento Europeu. O partido Reunião Nacional, de Marine Le Pen, atualmente lidera as sondagens com 29% dos votos, enquanto o Renascimento, sigla de Macron, tem 20% deles.