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Arrastões desde novembro no Centro de SP levam lojistas a falência, 'vaquinhas' e prejuízos

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Por Redação em 30/01/2024 às 00:01:10
Comerciante, que preferiu não se identificar, afirma que o movimento de clientes caiu e não consegue alugar o imóvel e pagar o IPTU. Câmeras registraram os crimes na região da Cracolândia. Lojas saqueadas na região da Cracolândia em SP

Reprodução/TV Globo

Lojas da Rua Santa Ifigênia, no Centro de São Paulo, foram alvo de ao menos três arrastões do fluxo da Cracolândia desde novembro do ano passado. Os casos deixaram prejuízos aos comerciantes, que precisaram de apoio de outros empresários ou terão que fechar os estabelecimentos.

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O primeiro foi em 2 novembro de 2023, seguido de outra situação parecida no dia 15 deste mês e a última contra uma loja de eletrônicos, que foi saqueada na manhã de sábado (27). Todas as ocorrências foram registradas por câmeras de segurança.

Pressionados pela insegurança e pela falta de clientes, lojistas estão indo embora. A TV Globo verificou cerca de cinco placas de "aluga-se" em um trecho de 200 metros.

A rua, que já foi conhecida como o maior ponto de comércio de eletroeletrônicos do país, vai ficando com cara de abandono, segundo os comerciantes. Um deles, que preferiu não se identificar, afirma que o movimento caiu e não consegue alugar o imóvel e pagar o IPTU.

"Não estou aguentando porque eu tenho que pagar o imposto caríssimo. Eu pago R$ 5,6 mil de imposto por mês. IPTU, infelizmente, é isso. Não tive benefício [isenção] ainda."

Loja saqueada e encerrada

O comerciante José Carlos de Souza, que com 25 anos de Santa Ifigênia, narra que vai fechar a loja.

Reprodução/TV Globo

Dono da loja de eletrônicos que foi saqueada na manhã de sábado (27) na região da Cracolândia, o comerciante José Carlos de Souza disse que não vai mais continuar com o negócio.

Souza afirmou à TV Globo que teve prejuízo de mais de R$ 300 mil com a ação dos dependentes químicos. Quase 100% dos produtos foram roubados, segundo o comerciante.

"A loja está sendo encerrada. A porta está fechada e não temos mais condições financeiras para continuar. Levaram mais de R$ 300 mil da loja. A gente já vem sofrendo, há vários anos, não é de agora... E o poder público promete e nada acontece. Estamos à mercê da nossa sorte", declarou .

A loja ficou devastada: produtos quebrados no chão, prateleiras vazias destruídas e muita bagunça.

"Acabei de vir do hospital. Já estávamos numa situação financeira complicada. Fechamos três lojas, agora mais uma. Acabei de vir do hospital porque a pressão [arterial] alterou. E talvez nossa maior revolta é com o poder público, que sabe o que está acontecendo, que é uma região tomada pelos bandidos, mas não faz segurança, não faz o que deveria fazer", declarou.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) encaminhou quatro pessoas para o 2º DP, na manhã de domingo (28) com objetos eletrônicos sem procedência.

"A abordagem aconteceu durante patrulhamento preventivo das equipes da GCM. Somente no Centro, são mais de 1.600 guardas, 77 viaturas e 140 motos no patrulhamento com rondas periódicas, 24h por dia, além das bases comunitárias. A pasta ressalta que a atuação da GCM é garantir a segurança dos agentes públicos e da população em geral durante as ações como, por exemplo, as de zeladoria."

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse no domingo (28), após o saque à loja, que vai colocar mais 500 guardas civis metropolitanos (GCMs) nas ruas do Centro da capital.

"Todo esforço junto com o governo do estado, para a gente poder minimizar essa questão de segurança. A situação era bem pior lá em 2015, 2016, depois do 'bolsa crack' foi para 4 mil usuários. Hoje tem em torno de mil e poucos, e a gente tem aberto para vocês de forma transparente a contagem de todos os dias", declarou.

O prefeito afirmou que está trabalhando com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para diminuir a criminalidade na região e oferecer ajuda aos dependentes químicos da Cracolândia.

Loja saqueada por usuários de drogas no último sábado (27) na região da Cracolândia, Centro de SP.

Abraão Cruz/Lucas Jozino/TV Globo

Crime em novembro

Comerciante em São Paulo há 11 anos, Ângela Alves de Oliveira teve a loja invadida e saqueada por usuários de droga em 2 de novembro.

Uma vaquinha feita por outros comerciantes ajudou Ângela a pagar o aluguel e a repor alguns aparelhos que foram levados. A loja voltou a funcionar, mas será por pouco tempo. Ela está na Bolívia cuidando dos familiares do marido.

"Não tenho mais clientes, não tenho mais capital de giro para me levantar e peguei emprestado no banco. Estou pagando as parcelas de R$ 400 com Bolsa Família."

Em entrevista ao SP2, na época, ela contou que havia sido a segunda vez que a loja de eletrônicos dela e do marido na Rua Santa Ifigênia foi invadida desde o início da pandemia.

Ela e o filho tentaram ir ao local para impedir a ação dos usuários de drogas, mas foram agredidos pelo grupo.

"Os vizinhos começaram a ligar, e a gente desceu para tentar evitar e conversar para não arrombar a loja. Mas eles já começaram a jogar pedra, atirar faca. Tinha um ou outro que levantou arma. A gente teve que voltar e esperar que levassem tudo."

A empresária baiana Ângela Alves de Oliveira, que vive em São Paulo há 11 anos.

Reprodução/TV Globo

Invasão em 15 de janeiro

No dia 15 deste mês, uma loja que comercializa controles remotos foi invadida. Foram cerca R$ 20 mil de prejuízo, segundo calcula o dono do estabelecimento, William César Leão.

"Aqui vira terra de ninguém. Tanto que a gente fechava às 18h. Hoje em dia a gente fecha às 17h. Isso aqui já começa a ficar deserto. A gente vai para casa, vai dormir pensando no que pode encontrar no outro dia. É triste", diz Wiliam.
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