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Piolhos-de-cobra podem se reproduzir de forma sexuada e assexuada; entenda as diferenças

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Por Redação em 30/01/2024 às 16:17:57
Vídeo mostrando reprodução dos invertebrados viralizou nas redes sociais. Especialista em diplópodes explica características e papel ecológico das espécies. Vídeo mostra reprodução de piolhos-de-cobra; espécie não foi identificada

Um vídeo mostrando a reprodução sexuada entre dois piolhos-de-cobra chamou a atenção de internautas na rede social. Um fato que poucas pessoas sabem é que esses invertebrados se reproduzem tanto de forma sexuada, quanto assexuada.

"No vídeo o que ocorre é a reprodução sexuada por meio de estruturas (pernas) modificadas: o macho, utilizando gonóporos localizados no segundo par de pernas, enche-os com esperma. Durante o acasalamento, ele encontra a fêmea e inicia o processo de inseminação", explica Thaís Almeida, especialista em Entomologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

"O macho sobe no dorso da fêmea até a região da cabeça, movendo-se então para a parte ventral do corpo, introduzindo o gonópode na vulva dela (localizada entre o segundo e terceiro segmentos)", acrescenta Thaís.

De acordo com ela, a vulva é o órgão onde o esperma é armazenado nas espermatecas. Por fim, os ovos depositados pela fêmea são fertilizados pelo esperma dos machos.

Na reprodução assexuada, feita através da partenogênese, um único organismo é capaz de gerar descendentes geneticamente idênticos a si mesmo. O fenômeno permite que o óvulo da fêmea se desenvolva sem ser fecundado, garantindo a propagação da espécie.

Cerca de 12 mil espécies de piolhos-de-cobra estão registradas em todo o mundo. No entanto, como não é possível ver as estruturas genitais dos indivíduos o vídeo, não foi possível identificar com exatidão a espécie mostrada.

Piolho-de-cobra da espécie Trigoniulus corallinus

Eric C. Maxwell / iNaturalist

"No Brasil, o número exato de espécies ainda não é conhecido, mas estima-se que na região tropical haja entre 1,1 mil e 1,2 mil espécies e subespécies", comenta a especialista em insetos, com ênfase em animais diplópodes, como o piolho-de-cobra.

Apesar da aparência não muito agradável, o grupo de animais desempenha um papel muito importante nos ecossistemas: a ciclagem de nutrientes no solo. Saiba mais sobre isso e sobre eles nos parágrafos abaixo.

Classe Diplopoda

Seguma característica marcante dos piolhos-de-cobra é o corpo alongado e diplossegmentado, composto por dois pares de pernas na maioria dos segmentos.

Os parentes mais próximos dos piolhos-de-cobra são os paurópodes (Pauropoda), que são invertebrados de solo muito pequenos, geralmente medindo alguns milímetros de comprimento. Eles são encontrados em ambientes úmidos, como solo, folhas e material orgânico em decomposição.

O tamanho dos piolhos-de-cobra varia de alguns milímetros a 35 cm, sendo uma das maiores espécies conhecidas a Sechelleptus seychellarum. Muitas vezes são confundidos com lacraias, devido à sua semelhança corpórea e de habitat.

Sechelleptus seychellarum está ameaçada de extinção, segunda a IUCN

Jiri Hodecek / iNaturalist

Os piolhos-de-cobra não são predadores. A maioria é detritívora, alimentando-se de matéria orgânica em decomposição. Algumas espécies se alimentam de fluidos vegetais e outras se alimentam da própria exúvia ("pele" trocada) e de pelotas fecais.

Esses organismos possuem substâncias químicas de defesa, composto principalmente por benzoquinona, que são liberadas quando se sentem ameaçados. Essas substâncias geralmente são impalatáveis para muitos animais, mas algumas espécies de insetos, aves e anfíbios desenvolveram resistência aos compostos.

Inofensivos ao ser humano

Existam casos raros de pessoas que, ao entrar em contato com as substâncias dos piolhos-de-cobra, manifestaram alergias como, por exemplo, uma leve ardência ou coceira na pele. No entanto, Thaís reforça que o animal é inofensivo aos seres humanos.

"Piolhos-de-cobra não apresentam veneno, sendo considerados animais inofensivos. As substâncias químicas de defesa liberadas por esses organismos não representam riscos para seres humanos", informa a especialista no grupo.

Piolho-de-cobra da espécie Tetrarthrosoma syriacum

Rafi Amar / iNaturalist

Ela ressalta que tais substâncias não têm o potencial de causar queimaduras ou necrose. Ao entrar em contato com essas secreções, é possível que a pele fique avermelhada, o que pode causar espanto, especialmente quando apenas visualizamos imagens na internet.

"Não há registros ou estudos que comprovem a capacidade dessas substâncias em causar necrose ou qualquer outro risco para seres humanos. Lamentavelmente, certos sites propagam notícias falsas com o intuito de atrair visualizações, mas esse comportamento também tem o efeito prejudicial de instigar pânico na população", alerta Thaís Almeida.

Decompositores importante

Os diplópodes desempenham um papel importante no equilíbrio ambiental, segundo a entomóloga. Sua principal contribuição ocorre na ciclagem de nutrientes no solo, em colaboração com outros invertebrados terrestres.

Quando se alimentam, esses animais fragmentam a matéria orgânica, expandindo a superfície disponível para a colonização microbiana. Esse processo acelera significativamente a ciclagem dos nutrientes.

Spelaeoglomeris alpina registrado em uma caverna na França

Gaëtan Jouvenez / iNaturalist

"Apesar da significativa contribuição dos piolhos-de-cobra para o equilíbrio ambiental e de seus comportamentos intrigantes, o conhecimento sobre as espécies presentes no Brasil ainda é considerado insuficiente. Essa lacuna, em grande parte, é atribuída à escassez de especialistas dedicados a esse grupo", comenta Thaís.

"No país, são poucos os estudiosos dedicados à pesquisa desses organismos. Como resultado, existe uma considerável quantidade de espécies aguardando descrição, destacando a necessidade de investimento e atenção na área para uma compreensão mais abrangente e precisa sobre a biodiversidade desses bichos", finaliza.

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