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'Nuvem de filhotes': conheça as estratĂ©gias de reprodução do pirarucu

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Por Redação em 24/02/2024 às 10:35:33
Macho muda de cor durante ritual de acasalamento e fêmea pode ter mais de um parceiro reprodutivo. Táticas surgiram para garantir a continuidade da espécie. 'Nuvem de filhotes': conheça as estratégias de reprodução do pirarucu

Uma "nuvem" formada por alevinos nada lentamente sobre a cabeça do macho de uma das espécies mais emblemáticas da Amazônia. O pirarucu (Arapaima gigas) é o maior peixe de escamas em água doce do mundo e garante proteção aos filhotes durante toda fase de crescimento.

"As pessoas ficaram impressionadas com a cena, com esse comportamento parental da espécie", explica o biólogo Paulo Franco, autor de uma imagem que circulou em grupos de pesquisadores na internet e que ilustra bem o comportamento do macho da espécie com a prole.

Na gravação, os alevinos fazem um "balé" sobre a cabeça do pai enquanto aprendem a se alimentar e a respirar fora d'água. O registro foi compartilhado recentemente, mas a gravação é de 2012 e foi feita no Jardim Zoológico de Brasília.

"Nuvem" de alevinos nada sobre a cabeça de um pirarucu macho

Reprodução / Paulo Franco

"Eu era diretor de museologia e taxidermia do zoológico. Sempre passava pelo lago que fica próximo ao teatro de arena e um dia tive a oportunidade de filmar com o celular o pirarucu acompanhado dos filhotes. Esses peixes vieram do Rio Araguaia e foram introduzidos neste local, na década de 1960. Essa era uma cena bem comum por lá e sempre chamava a atenção dos visitantes", comenta Franco.

Imagine um pai que ensina e garante proteção aos filhos até a juventude, quando eles entram na faculdade, depois se formam e daí para frente vão seguir o próprio caminho. Na natureza o cuidado é diferente, mas a função de proteger que o macho do pirarucu exerce é semelhante, o que muda é o critério de "independência" dos alevinos.

"Essa proteção está relacionada com o tamanho do filhote, com a capacidade de se alimentar e de se proteger de predadores. Geralmente, indivíduos entre 30 e 50 centímetros já conseguem fazer isso", afirma Ana Claudia Torres Gonçalves.

Ana é coordenadora do Programa de Manejo de Pesca do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, projeto referência na pesca sustentável de pirarucu na Amazônia, região onde a espécie é nativa.

Mesmo com toda essa proteção, apenas cerca de 10% dos alevinos de pirarucu na natureza chegam à fase adulta em ambientes onde a espécie é nativa. Os alevinos são predados por outras espécies vorazes como, por exemplo, a piranha e o tucunaré.

Poligamia entre fêmeas

Existem peixes poligâmicos que são divididos em dois grupos: poligínicos, quando o macho acasala com várias fêmeas durante a reprodução e os peixes poliândricos, quando é a fêmea que pode se acasalar com diversos machos.

Pirarucu é o maior peixe de escamas em água doce

manimiranda / iNaturalist

Essa é uma estratégia da fêmea do pirarucu para garantir a sobrevivência da espécie. "Ela tem o que chamamos de desova parcelada. Se ela identificar que aquele macho tem condições de garantir a proteção da prole, a fêmea pode fazer toda desova com aquele macho, mas ela também pode fazer a desova parcelada várias vezes e com vários machos ao longo do ciclo de reprodução", diz Ana Claudia.

Apesar do macho ter uma participação fundamental e contínua nessa proteção, a fêmea também participa do cuidado com os filhotes. "Ela não se distancia tanto e está sempre por perto para afastar possíveis predadores, embora seja o macho o responsável por esse cuidado mais constante", explica.

Macho muda de cor para atrair parceira

No período em que está cuidando da prole, a coloração do macho do pirarucu é mais escura. No entanto, essa cor muda no período de reprodução, ficando mais avermelhada. O tom forte que se destaca é que dá o nome popular à espécie: em tupi, "pira" significa peixe e "urucum", vermelho.

Para se reproduzir, a fêmea busca identificar machos que tenham o potencial de cuidar da prole. "Ela seleciona indivíduos maiores, mais vermelhos e que demonstram mais saúde e capacidade de proteção", explica Ana Claudia.

Ao definir o parceiro para o acasalamento, ela constrói o ninho. Durante a incubação, a fêmea permanece no ninho, enquanto o macho fica em volta protegendo o território. Ao todo, passam cerca de dez dias para os ovos eclodirem.

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