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Com disputa entre Trump e Biden nas eleições quase definida, EUA se preparam para 'Superterça' mais previsível e esvaziada dos últimos anos

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Por Redação em 03/03/2024 às 14:16:19
Data é a mais importante antes da eleição: nela 15 estados e um território dos EUA votam simultaneamente nos pré-candidatos republicanos e democratas. A 'Superterça' costuma ser decisiva nas eleições do país, mas consolidação de Trump torna cenário previsível e deve esvaziar a importância da votação, na avaliação de especialistas ouvidos pelo g1. Homem caminha em direção a local de votação nas primárias do estado do Michigan, nos Estados Unidos, em fevereiro de 2024.

Paul Sancya/ AP

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Os pré-candidatos à presidência dos Estados Unidos enfrentarão na próxima terça (5) um dos principais desafios do calendário eleitoral do país: a Superterça, como é chamada a data na qual vários estados votam simultaneamente em postulantes à presidência dos Estados Unidos.

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Historicamente, o dia costuma ser decisivo tanto para o Partido Republicano quando para o Democrata, mas, principalmente, para a sigla que está na oposição -- desta vez, os republicanos.

Este ano, no entanto, os superlativos da data devem acabar diminuídos diante de um cenário previsível para os dois partidos, na avaliação de especialistas ouvidos pelo g1.

A Superterça é a data protagonista nos cerca de seis meses em que dura o período de prévias dos EUA, no qual eleitores dos partidos Republicano e Democrata escolhem quem será o candidato pela sigla.

O "pacotão" de primária num mesmo dia ocorreu pela primeira vez em 25 de maio de 1976, com seis estados. Aos poucos, o nome "Superterça" se tornou popular entre jornalistas e analistas políticos para se referir à data, que passou então a ser conhecida assim.

Em um único dia, pouco mais de um terço dos delegados - representantes de cada candidato - é definido. Neste ano, 15 estados e um território dos Estados Unidos votarão (veja lista abaixo) na Superterça. Para os republicanos, isso significa a escolha de 874 do total de 2.429 de delegados do partido.

A votação da Superterça já foi decisiva, por exemplo, para o ex-presidente Barack Obama na disputa com Hillary Clinton em 2008 e para Donald Trump na corrida pré-eleitoral em 2016. Os dois acabaram vencendo as eleições nesses anos. Foi acirrada também em 2012, entre os republicanos, e em 2020, para os democratas.

Neste ano, no entanto, as candidaturas dos dois lados já estão praticamente definidas. Apesar das polêmicas como a questão da idade e da memória, pelo lado de Joe Biden, e dos processos judiciais que o republicano Donald Trump enfrenta na Justiça, ambos despontam como favoritos absolutos em seus partidos. Trump foi presidente dos EUA entre 2017 e 2020.

Por isso, a Superterça deste ano será a menos importante das duas últimas décadas, na avaliação do analista político Sam Logan, fundador da consultoria de Washington Southern Pulse.

"Em anos como o de 2016, quando o Trump entrou em definitivo na disputa, o grau de relevância da Superterça foi muito maior que o desta vez", disse Logan ao g1. "Mas as primárias no geral têm perdido importância, com exceção desses episódios específicos".

Do lado democrata, Biden enfrenta outros dois candidatos, mas desponta como o grande favorito.

Já do lado republicano, Donald Trump enfrenta apenas uma rival, a ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley, e, até agora, está vencendo por ampla maioria de delegados. Ele ganhou de Haley em todas as primárias republicanas até aqui: Nevada, Ilhas Virgens, Michigan (onde há duas primárias), Idaho, Missouri, Iowa, New Hampshire e Carolina do Sul, este último berço político da rival.

Os quatro processos aos que o ex-presidente responde na Justiça dos EUA não parecem ter afetado, até agora, sua campanha, segundo mostram pesquisas feitas com eleitores republicanos.

Esse cenário, no entanto, pode mudar na Superterça: o julgamento do processo principal, no qual Trump é acusado de conspirar para mudar o resultado das eleições de 2020, começará nesta segunda-feira (4), na véspera da votação simultânea.

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Nikki Haley discursa durante primárias republicanas na Carolina do Sul.

Reuters

Ainda assim, a avaliação dos especialistas é que a maior chance de que a Superterça "esquente" e recupere protagonismo neste ano reside no desempenho de Nikki Haley.

Isso porque a única rival de Donald Trump atende ao perfil dos eleitores republicanos da maior parte dos estados que votarão na data, mais moderados, com formação universitária e mais resistentes a propostas radicais de Trump, este mais alinhado à extrema-direita.

É o caso do perfil do eleitorado de Massachusetts e Virginia, as grandes apostas de Nikki Haley.

Este é um dos fatores que explicam por que doadores da campanha de Haley continuam colocando dinheiro em sua candidatura --nos EUA, não existem fundos públicos para campanhas eleitorais, que devem ser inteiramente bancadas por doações.

"Se ela ganhar em um ou dois estados, é possível que ela permaneça na corrida por mais algumas semanas e, assim, o Trump não conseguirá unir o Partido Republicano, mesmo que Haley não consiga derrotá-lo", disse ao g1 o analista político James Bosworth, da consultoria de risco político dos Estados Unidos Hxagon.

Segundo Bosworth, pesquisas de opinião entre republicanos dos estados que já passaram por prévias eleitorais têm mostrado que um índice de rejeição cada vez maior a Donald Trump. "Se essas pesquisas mostrarem o mesmo na Superterça, isso sinalizará um grande problema para a campanha de Trump", afirmou.

Não significa que a tarefa de Haley seja simples: apesar da rejeição, Trump segue favorito na grande maioria dos estados, de acordo com as pesquisas. Entre eles estão a Califórnia e o Texas, os dois mais importantes da Superterça.

Sua campanha projeta que ele conquistará pelo menos 773 delegados na data e garantirá, assim, sua indicação como candidato republicano uma ou duas semanas depois, dependendo da contagem dos votos.

Estados que votam

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A votação da Superterça ocorre na Samoa Americana, território dos EUA na Oceania, e nos seguintes estados:

Alabama;

Alasca;

Arkansas;

California;

Colorado;

Maine;

Massachusetts;

Minnesota;

North Carolina;

Oklahoma;

Tennessee;

Texas;

Utah;

Vermont;

Virginia.

Cada estado pode ter processos diferentes de votação - as primárias ou os chamados caucus (veja o vídeo abaixo e entenda como funciona).

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E, apesar do favoritismo, pela contagem de delegados nem Trump nem Biden conseguirão a nomeação com a Superterça. Pelos cálculos, os dois pré-candidatos só poderiam ser confirmados como candidatos a partir de meados de março.
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