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Partos, tormentas, "navio-fantasma" e sequestro: relembre fatos marcantes da Ponte Rio-Niterói, que faz 50 anos

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Por Redação em 04/03/2024 às 05:19:02
Foto: Reprodução internet

Foto: Reprodução internet

Via cinquentenária viu de tudo desde 1974. Ponte Rio-Niterói

Marcos Serra Lima/g1

Os 50 anos da Ponte Rio-Niterói, completados nesta segunda-feira (4), guardam muitos momentos marcantes. Lá nasceram e morreram pessoas; um sequestro parou o trânsito — e o país; e tempestades causaram cenas sinistras, como choques de embarcações e oscilações da estrutura.

No cinquentenário da via, o g1 e a TV Globo prepararam muita coisa legal. Aqui você aprende como a Ponte foi construída; e aqui você visita o interior dela.

Nesta reportagem, você vai ver:

Gente que nasceu na Ponte;

A morte de Maysa;

O sequestro do ônibus 2520;

Acidentes marcantes;

Efeitos do mau tempo;

O choque do navio-fantasma.

Vista da Baía da Ponte Rio-Niterói

Reprodução/GloboNews

1. Gente que nasceu na Ponte

Conheça uma das 'Filhas da Ponte'

Mariah e Noah são "filhos da Ponte" de carteirinha, ou melhor, de certidão. Como vieram ao mundo em via pública, consta "Ponte Rio-Niterói" como local de nascimento.

Ambos foram apressadinhos e chegaram antes da hora. Mariah pegou engarrafamento; Noah teve trânsito livre.

A chegada de Mariah foi no dia 9 de agosto de 2018 (veja acima). Conta o pai, Rodrigo Leal: "Por volta das 6h, resolvemos sair de casa, em São Gonçalo, direto para a Maternidade Maria Amélia, no Centro do Rio. Por conta do horário, por volta das 7h, na Alameda São Boaventura, o trânsito estava horrível. Minha esposa estava no banco de trás do nosso carro, com muita contração, e quando chegamos perto da subida da Ponte o neném nasceu".

Certidão de Mariah traz 'Ponte Rio-Niterói' como local de nascimento

Reprodução/GloboNews

De acordo com o pai, devido ao grande fluxo de carros na Ponte, a bebê só conseguiu receber os primeiros socorros 20 minutos depois de nascer.

"Com o neném no colo, fomos até uma ambulância da Ponte. Por conta do trânsito intenso, só conseguimos chegar à base de socorro da Ponte 20 minutos depois do nascimento da minha filha. Eles atenderam a gente muito bem, cortaram o cordão umbilical, limparam ela, fizeram os procedimentos na minha esposa e depois encaminharam a gente para o hospital", explicou Rodrigo.

Após o primeiro atendimento prestado pela equipe da Ponte Rio-Niterói, a mãe e o bebê foram encaminhados para a Maternidade Maria Amélia, no Centro do Rio.

Mariah nasceu na Ponte em 2018

Reprodução/GloboNews

Já Mayra Torres deu à luz Noah no dia 20 de julho de 2022. Com 9 meses de gestação, ela tinha marcado para começar a fazer a indução do parto na quarta de manhã. Mas, no meio da madrugada, ela entrou em trabalho de parto.

A avó foi chamada às pressas para levar o casal, que estava em Itaipu, em Niterói, para a maternidade no Flamengo, no Rio.

Bebê nasce na Ponte Rio-Niterói a caminho da maternidade

Reprodução/TV Globo

Parecia que ia dar tempo, mas quando eles estavam no meio da Ponte, altura do vão central, Noah nasceu.

"A dor ficou muito intensa. Eu fiz força porque o próprio corpo já estava colocando para ele nascer. Então o mínimo de força que eu fiz, a primeira e segunda vez, ele nasceu", contou a mãe.

2. A morte de Maysa

Acidente de Maysa foi retratado em minissérie

O episódio foi retratado na série "Maysa: quando fala o coração" (veja acima).

Era 22 de janeiro de 1977. Contrariando seus pais, a cantora decidiu ir do Rio de Janeiro para Maricá ainda no fim da tarde daquele sábado. Por eles, ela só pegaria a estrada no dia seguinte.

Maysa dirigia a sua Brasília azul a mais de 100 km/h pela Ponte — naquela época não existiam radares para limitar a velocidade — e com a janela do motorista aberta. As demais estavam fechadas.

Ao tentar desviar de um carro na descida do vão central, a Brasília foi atingida por uma forte lufada de vento. Sem controle, o automóvel bateu na mureta e rodopiou várias vezes.

Com diversos ferimentos, Maysa morreu a caminho do Hospital Antonio Pedro, em Niterói, aos 40 anos.

3. O sequestro do ônibus 2520

Veja 9 momentos do cerco ao ônibus na Ponte Rio-Niterói

O 20 de agosto de 2019 mal tinha começado quando, às 5h25, um homem a bordo de um ônibus da linha 2520 (do Jardim Alcântara, em São Gonçalo, até o Estácio, na região central do Rio) anunciou um sequestro e tomou 38 passageiros mais o condutor reféns — com uma arma falsa.

Às 6h, já na Ponte, o criminoso ordenou que o motorista parasse — do contrário, incendiaria o ônibus. E de fato o homem trazia gasolina, que fracionou em fundos de garrafa plástica pendurados pelo corredor, e atou os punhos dos reféns com lacres. Começava ali um martírio de 3 horas.

Policiais cercam ônibus na Ponte Rio-Niterói

Reprodução/TV Globo

O Bope assumiu as negociações, e nas horas seguintes o sequestrador libertou 2 homens e 4 mulheres, uma delas desmaiada.

A motivação do sequestrador nunca ficou clara. Ele dizia ser PM, quando na verdade não era, e chegou a exigir R$ 30 mil. Não tomou nenhum pertence dos passageiros.

Atirador de elite sobre caminhão do Corpo de Bombeiros mira ônibus na Ponte Rio-Niterói

Flávio Capitoni/ TV Globo

Às 9h04, depois de descer do ônibus para jogar um casaco fora, o criminoso foi alvejado por um atirador de elite que tinha se posicionado deitado sobre um carro dos bombeiros. Ao confirmar que havia acertado o sequestrador, o sniper fez um sinal de positivo.

Meia hora depois, o então governador Wilson Witzel chegou à Ponte de helicóptero e, ao desembarcar, gesticulou e vibrou com o desfecho. "O ideal é que todos saíssem com vida, mas tivemos que tomar a decisão de salvar os reféns", declarou.

Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, chega à ponte Rio-Niterói após sequestrador de ônibus ser morto por atirador de elite nesta terça-feira (20)

Ricardo Cassiano/Agencia O Dia/Estadão Conteúdo

4. Acidentes marcantes

Em 21 de outubro de 1997, um engavetamento entre 4 ônibus deixou quase 100 feridos, no que foi considerado o pior acidente em número de vítimas.

No ano seguinte, em 29 de julho, uma colisão entre uma Topic e um caminhão da Ponte S/A, que era a concessionária à época, jogou 3 pessoas ao mar, e uma delas morreu. Havia muita neblina quando o utilitário bateu no veículo de serviço. José Maurício Assis da Silva foi um dos sobreviventes. Ele não sabia nadar. "Foi a mão de Deus que me salvou", disse.

Gato é jogado da Ponte Rio-Niterói e salvo por homens de caiaque

Reprodução/ TV Globo

Em 16 de agosto de 2021, pescadores em um caiaque resgataram um gatinho que tinha caído do alto da Ponte. "Achei que era uma gaivota, que tinha mergulhado atrás de um peixe. Quando olhei, vi o gato desorientado", contou Vagner Rodrigues Pinheiro, que também é marinheiro particular.

Vagner achava que alguém tinha atirado o bichinho do alto da via. No dia seguinte, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) divulgou imagens do episódio e disse acreditar que o felino estava preso no motor de um carro e saiu justamente na Ponte.

O registro mostra o bichano zunindo para o canteiro central e depois atravessando as pistas até cair no vazio — carros chegam a desviar dele.

"Ele estava muito agitado. Eu estava muito preocupado com ele. No retorno até o Fundão, que eu levo meia hora, com o gato eu levei três horas. Em um momento, o bichinho ainda caiu", acrescentou o professor Alexandre Duarte, companheiro de pesca de Vagner.

5. Efeitos do mau tempo

Oscilação da Ponte com ventania

Ponte S/A

Até 2004, a Ponte balançava para cima e para baixo sempre quando atingida por ventos de 60 km/h. Essa oscilação é prevista em quase toda estrutura e tem a ver com frequências de onda — e muito raramente causa danos.

Na Rio-Niterói, o piso podia subir e descer 1,2 metro, e quem estivesse passando pela via na hora sentia o "tobogã". Foi o que aconteceu em 16 de outubro de 1997, quando a ventania chegou a 120 km/h e levou ao fechamento da Ponte por 2 horas — nunca a via tinha ficado tanto tempo interditada por causa do mau tempo. Motoristas que pegaram o início da tormenta abandonaram os carros, em pânico.

Mas em 2004 o problema acabou, graças ao Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), que desenvolveu os Atenuadores Dinâmicos Sincronizados (ADS).

O "freio ADS" consiste em conjuntos de molas no vão central que fazem um contrabalanço à força do vento. A oscilação foi praticamente anulada.

Mas isso não impede o bloqueio da Ponte quando o tempo está ruim. Em 21 de setembro de 2021, rajadas de 80 km/h levaram a Ecoponte a fechar a via para segurança dos usuários. Essas lufadas podem desestabilizar um carro e até derrubar uma moto.

Os Atenuadores Dinâmicos Sincronizados (ADS) da Ponte Rio-Niterói

Reprodução/Globo News

6. O choque do navio-fantasma

A Baía de Guanabara é um cemitério de embarcações abandonadas de médio e grande porte, e no fim da tarde de 14 de novembro de 2022 uma delas se soltou durante uma tempestade e, arrastada pelos fortes ventos, bateu na Ponte.

Era o navio-graneleiro São Luiz, de 200 metros de extensão por 30 de largura, ancorado desde 2016 nas proximidades da Ilha do Governador e vazio desde 2018. A embarcação pertence à Navegação Mansur, que hoje enfrenta várias ações trabalhistas, paralisando quase toda a "esquadra".

Naquela tarde, ventos de cerca de 60 km/h acabaram rompendo a âncora, que já estava retorcida de tantos giros que o São Luiz deu.

À deriva, o graneleiro percorreu 1 km até se chocar contra a pista. Eram 18h25 quando a torre de exaustão bateu no guarda-corpo do sentido Rio. Alexandro Belotte passava bem na hora e flagrou o choque:

Homem em um carro filmou o momento em que navio bate na Ponte Rio-Niterói

"Começou um vento muito forte. Eu vi o navio e achei que ele ia passar direto [por baixo]. Mas, pela altura, logo pensei que estava estranho e que não ia dar", lembrou.

"A parte alta bateu forte na ponte. Na hora, meu telefone caiu no chão. Chegou a balançar a Ponte, balançou muito. O carro quase saiu de uma faixa e foi para a outra."

Apesar do susto, ninguém se feriu, e não houve danos estruturais — só um guarda-corpo quebrado.

Quem estava na Ponte precisou de paciência, já que os dois sentidos ficaram fechados por 3 horas. Mas não faltou o churrasquinho.

O São Luiz não foi o único navio a se chocar contra a Ponte. Em 16 de maio de 1978, o cargueiro Iracema colidiu na via após ser arrastado pela Baía com ventos de 70 km/h. Três pilares sofreram avarias.

Em 2 de janeiro de 1987, uma plataforma da Petrobras chegou a derrubar um poste. Era a Santos Dumont, que estava em reparo em um estaleiro e acabou arrastada até o meio da Baía.
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