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Quem é o delegado preso suspeito de manter 'sala de extorsão' em delegacia que inventava crimes no interior de SP

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Por Redação em 27/03/2024 às 05:29:02
Policial tinha R$ 29.657,20 de remuneração bruta e cuidou de casos de repercussão, como a morte de um engenheiro na Festa do Peão de Indaiatuba. O delegado José Clésio Silva de Oliveira Filho, do 1º Distrito Policial de Indaiatuba

Gustavo Biano/EPTV

Apontado pelo Ministério Público como suspeito de chefiar um esquema criminoso que extorquia dinheiro de empresários em Indaiatuba (SP), José Clésio Silva de Oliveira Filho tem 51 anos e é delegado da Polícia Civil de São Paulo desde 2010. Veja perfil nesta reportagem.

O delegado foi preso temporariamente nesta terça-feira (26) na Operação Chicago, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-SP, e deve passar por audiência de custódia nesta quarta-feira (27).

Segundo promotores de Justiça, Clésio mantinha no 1º Distrito Policial (DP) de Indaiatuba uma "sala de extorsão", onde policiais ameaçavam imputar crimes a detidos se não pagassem propina à quadrilha.

"É bem narrado na investigação uma sala que nós chamamos de sala de extorsão, aonde foi colocado drogas na mesa e tinha uma vítima que estava algemada com claros indicativos de, olha, aceita o acordo ou essas substâncias ilícitas serão suas', explicou o promotor de Justiça Paulo Carolis.

Promotor afirma que existia "sala de extorsão" no 1º DP de Indaiatuba

À EPTV, afiliada da Globo, a defesa do delegado José Clésio Silva de Oliveira Filho disse que não iria se manifestar ainda porque os autos do processo estão em segredo de Justiça.

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) não se manifestou até a última atualização desta reportagem.

Perfil

Clésio iniciou a carreira como delegado em 2010 nas delegacias da capital e chegou a Indaiatuba em março de 2021 como delegado-assistente do 1º Distrito Policial. Em janeiro de 2023, com a transferência do então titular para Campinas, foi nomeado a delegado-titular do 1º DP da cidade.

O investigado foi promovido a delegado de 1ª classe (segunda maior graduação para delegados) pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em 15 de agosto de 2023. Segundo publicação no Diário Oficial, a promoção foi por "merecimento". No cargo, Clésio teve remuneração bruta de R$ 29.657,20 em fevereiro deste ano.

Como titular em Indaiatuba, Clésio ganhou notoriedade na mídia em dois casos, especialmente. No inquérito que apurou a morte de um engenheiro dentro da Festa do Peão de Indaiatuba e na investigação sobre o assalto a uma joalheira no Shopping da cidade.

Delegado titular do 1º DP de Indaiatuba foi preso suspeito de liderar organização criminosa

Reprodução/EPTV

Células de atuação

Além de Clésio, investigadores, guardas municipais, funcionários comissionados da Prefeitura e advogados são suspeitos de participação na organização criminosa.

Segundo os promotores de Justiça, as investigações apontam que o delegado titular do 1º DP de Indaiatuba era o chefe da organização criminosa e que os outros integrantes atuavam em grupos dentro do esquema, as chamadas células de atuação.

Policiais civis e guardas municipais: invadiam estabelecimentos comerciais para forjar falsos flagrantes contra os empresários e fazer, indevidamente, apreensões de bens e dinheiro.

Advogados: atuavam como intermediadores no pagamento de propina, fazendo a contagem e o transporte do dinheiro, além de cobrar honorários sobre os valores extorquidos.

Servidores comissionados: atuavam no contato com os empresários extorquidos a fim de cobrar as propinas previamente exigidas.

"Ao delegado, neste momento na investigação, foi imputada a liderança dessa situação porque ele efetivamente firmava os documentos, como relatórios e instauração de inquérito policial. E os elementos são indicativo de que as propinas se destinavam a ele.", explicou Paulo Carolis, promotor do Gaeco.

Major Auguto Martinelli, comandante do 1º Baep, e Paulo Carolis, promotor de Justiça do Gaeco, durante coletiva de imprensa

Toni Mendes/EPTV

Segundo Carolis, essas foram as divisões de tarefas apuradas até o momento pela investigação e que podem ser melhor detalhadas quando ocorrer o oferecimento da denúncia à Justiça.

A operação

Ao todo, promotores de Justiça, com o apoio da Polícia Militar e da corregedoria da Polícia Civil, cumpriram nesta manhã 17 mandados de busca e apreensão e 13 de prisão temporária (por 30 dias). 15 veículos foram apreendidos.

A suspeita é que os investigados tenham exigido, pelo menos, R$ 10 milhões de reais de propina desde 2022, para arquivar investigações que eram forjadas pelos suspeitos. Entre as vítimas, cerca de 10 proprietários estabelecimentos comerciais, como supermercados, lojas de roupas e estacionamento de veículos.

Saiba como funcionava esquema que forjava investigações para extorquir empresários

Alvos de prisão temporária

Segundo o Ministério Público, 14 mandados de prisão temporária, com validade de 30 dias, foram expedidos pela Justiça e 13 foram cumpridos, restando um foragido. As prisões podem ser prorrogadas por mais 30 dias ou ser convertidas em preventiva (por tempo indeterminado).

Clésio, o delegado do 1º DP de Indaiatuba;

Um escrivão;

Dois investigadores, sendo uma mulher presa na casa dela em Itu (SP);

Dois guardas municipais;

Três advogados;

Três funcionários comissionados da Prefeitura de Indaiatuba;

Um fiscal da Prefeitura de Indaiatuba;

Um décimo quarto indivíduo foragido.

Alvos de busca e apreensão

Foram ainda expedidos, por determinação da Justiça,17 mandados de busca e apreensão. Todos cumpridos nesta quinta:

Nos endereços dos 14 investigados;

No prédio do 1º DP de Indaiatuba;

Em dois escritórios de advocacia.

Crimes investigados

Extorsão mediante restrição de liberdade

Organização Criminosa

Roubo

Furto

Corrupção ativa

Invasão de comércios e fabricação de inquéritos

De acordo com o Gaeco, o grupo de Indaiatuba fabricava boletins de ocorrência, inquéritos e relatórios de investigação para sustentar exigência de pagamentos como preço de "resgate" de eventuais prisões decretadas ou garantias de não investigação.

Os boletins, as investigações e até as prisões eram forjadas. Segundo o MP, dezenas de empresários foram extorquidos no período de um ano. O valor das extorsões variava de R$ 1 a R$ 3 milhões.

Chicago

O nome da operação, "Chicago", remete à cidade americana dos anos 20 e 30, quando gangsters governavam a cidade "à base de violência, desprezando a lei e criando fortunas com os crimes". Pelo menos 15 promotores de Justiça, 10 servidores do Ministério Público, 94 policiais militares e 19 policiais civis participaram da operação.

Delegacia de Indaiatuba foi alvo de busca e apreensão

Jorge Talmon/EPTV

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