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Áudios revelam socorro após batida: motorista do Porsche estava 'bem', amigo não conseguia 'respirar' e condutor do Sandero ficou 'inconsciente'

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Por Redação em 12/04/2024 às 04:44:40
Ligações feitas ao Samu e obtidas pela TV Globo dão dimensão de atendimento a Ornaldo Viana, que morreu, Marcus Rocha, que fraturou costelas, e Fernando Sastre Filho, que não se feriu com gravidade. Áudios do Samu mostram como foi atendimento após acidente com Porsche

Áudios do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) revelam como foi o pedido de socorro feito para o condutor do Porsche, o amigo dele e o motorista de aplicativo que estava no Sandero após grave acidente em 31 de março na Zona Leste de São Paulo (ouça acima). Eles foram obtidos com exclusividade pela TV Globo.

O motorista do carro de luxo, Fernando Sastre de Andrade Filho, um empresário de 24 anos, não se feriu com gravidade. E, de acordo com algumas vozes não identificadas que aparecem nos áudios do Samu, ele estava "bem" após bater na traseira do carro de Ornaldo da Silva Viana, que estava "inconsciente", de acordo com a gravação. O motorista de aplicativo de 52 anos morreu no hospital.

Quem fez a ligação para o Samu foi a namorada de Marcus Vinicius Machado Rocha. O estudante de 22 anos é amigo de Fernando e estava no banco do carona do Porsche que causou o acidente na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé.

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A batida também foi gravada por câmeras de segurança (veja vídeo abaixo).

"Moça, pelo amor de Deus... ele está sentindo muita dor nas costas. Ele não está conseguindo respirar", diz a jovem sobre Marcus.

No diálogo com a atendente do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, a namorada de Marcus pede uma ambulância para ele e Ornaldo, que estão gravemente feridos. O motorista de aplicativo estava inconsciente no Sandero.

Marcus se queixava de dores nas costas, segundo sua namorada, que pergunta: "Você tava de cinto, Marcus?" Em seguida, uma voz masculina responde que sim. Outras vozes surgem na conversa - pessoas foram participar do socorro às vítimas.

"Por favor, vem rápido", diz a namorada de Marcus para a atendente. O namorado dela fraturou quatro costelas, o que só foi descoberto no hospital. "Moça, pelo amor de Deus... ele está sentindo muita dor nas costas. Ele não está conseguindo respirar."

"São três vítimas, mas uma, aparentemente, está bem e as outras duas estão mal", falou a jovem.

Durante a conversa aparece a voz de outra mulher, que é identificada como a mãe de Fernando. "Filho, como que você tá?", pergunta ela.

A Polícia Civil ainda não informou se irá usar os áudios do Samu na investigação, mas, segundo fontes da reportagem, eles podem ajudar no esclarecimento do acidente.

Motorista de Porsche bebeu, diz amigo

Amigo depõe à polícia e confirma que motorista de Porsche bebeu antes de acidente

A investigação também vai usar os depoimentos e laudos periciais para concluir o inquérito que apura as causas e eventuais responsabilidades pelo que ocorreu.

Marcus foi ouvido na tarde desta quinta-feira (11) pela polícia no Hospital São Luiz Anália Franco, onde está internado. Ele tem previsão de alta entre essa sexta-feira (12) e sábado (13).

O g1 e a TV Globo apuraram que um delegado e um investigador que foram nesta tarde ao quarto onde Marcus estava confirmaram com ele que Fernando, que dirigia o carro de luxo, tomou bebida alcoólica e acelerou antes de bater na traseira do Sandero de Ornaldo, que morreu.

O acidente ocorreu em 31 de março na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, e foi gravado por câmeras de segurança (veja abaixo).

O 30Âș Distrito Policial (DP) investiga as causas e eventuais responsabilidades pelo acidente que matou Ornaldo e feriu Marcus gravemente.

Fernando teria tido um corte na boca, mas não foi hospitalizado. O empresário de 24 anos foi indiciado por homicídio por dolo eventual (por ter assumido o risco de matar Ornaldo), lesão corporal (por machucar Marcus) e fuga do local do acidente (para não fazer o teste do bafômetro da Polícia Militar (PM), que poderia detectar se ele bebeu e dirigiu).

O motorista do Porsche já foi interrogado dias antes pela investigação e negou ter bebido ou fugido do local. Admitiu, no entanto que dirigia "um pouco acima do limite" de velocidade para a via, que é de 50 km/h. A namorada de Fernando foi ouvida nesta semana pela polícia e confirmou a versão dele.

Algumas testemunhas, no entanto, contaram no 30Âș DP que Fernando bebeu "alguns drinks", tinha sinais de embriaguez, transitava bem acima do limite para a avenida e havia garrafas dentro do carro de luxo.

Uma das pessoas ouvidas pela investigação foi a namorada de Marcus, que é acompanhada pelos mesmos advogados do estudante.

'Alterado por conta da bebida'

Acidente Porsche

Reprodução

O depoimento de Marcus corroborou o que sua namorada havia dito. O estudante também confirmou que Fernando e as namoradas dos dois amigos haviam se encontrado na noite de 30 de março, quando os quatro tomaram alguns drinks de bebidas destiladas. Depois seguiram para uma casa de pôquer, onde ficaram até o início da madrugada do dia seguinte.

Como Fernando "estava alterado por conta da bebida", Marcus contou que se ofereceu para ir com o amigo como passageiro para que ele não fizesse "besteira".

Ainda segundo Marcus, Fernando dirigia de maneira "tranquila", mas depois "deu uma acelerada" antes de entrar na avenida. Foi nessa via que ocorreu o acidente.

A Polícia Técnico-Científica vai analisar as imagens para determinar qual era a velocidade do Porsche. O laudo será feito pelo Instituto de Criminalística (IC).

O delegado Nelson Alves, titular do 30Âș DP, perguntou a Marcus se ele lembrava de como foi a batida do Porsche no Sandero. Mas o estudante contou que "não consegue se recordar de mais nada", e que "não tem lembranças de como se deu o acidente".

Marcus contou que se lembra apenas que acordou após a colisão e se recorda de estar deitado no chão e "sentindo dores". E que ao recobrar a consciência "já estava internado".

Polícia fala em 'novidades' e advogados confirmam versão

Hospital São Luiz Anália, na Zona Leste de São Paulo

Kleber Tomaz/g1

O g1 e a TV Globo estiveram nesta quinta em frente ao hospital onde a polícia ouviu Marcus. Na saída, o delegado Nelson disse que não poderia comentar o que o amigo de Fernando havia dito, mas que a imprensa teria "novidades" na investigação. No entanto não disse o que seria.

Ao serem abordados, pela reportagem, os advogados José Roberto Lourenço e Amanda Bessoni Boudox Salgado, que defendem os interesses de Marcus e acompanharam o depoimento dele no hospital, também disseram que não poderiam dar mais detalhes do que seu cliente disse.

Mas confirmaram que ele contou mesmo aos policiais que Fernando tinha ingerido bebida alcóolica antes do acidente.

"Ele contou que estavam em um restaurante, que consumiram bebidas alcoólicas lá. De lá eles foram para a casa de pôquer. Na casa de pôquer eles ficaram separados, (...) em mesas separadas. Ele não conseguiu ver se lá ele consumiu bebida alcoólica ou não. De lá, eles saíram, teve uma discussão, segundo ele disse, o amigo estava um pouco alterado, e a última coisa que ele se lembra é ele no carro com o amigo e o amigo acelerando", relatou José Roberto.

A polícia pediu imagens das câmeras de segurança dos estabelecimentos para saber se Fernando bebeu nesses locais. Até o momento, nenhum vídeo que mostra o empresário bebendo surgiu na investigação.

Justiça negou dois pedidos de prisão

Fernando Sastre de Andrade Filho (foto) é o motorista do Porsche envolvido no acidente que matou um motorista por aplicativo.

Reprodução/TV Globo

A polícia já pediu duas vezes a prisão de Fernando à Justiça, que negou os pedidos. O empresário responde aos crimes em liberdade, mas foi obrigado pela Justiça a entregar o passaporte à Polícia Federal (PF) e pagar uma fiança de R$ 500 mil. Além disso, teve a carteira de motorista suspensa provisoriamente.

A defesa de Fernando alega que o acidente foi uma "fatalidade". A reportagem tenta contato com seus advogados para comentar os depoimentos de Marcus e da namorada dele, mas não teve retorno.

Novas imagens mostram motorista de Porsche antes e depois do acidente

A Corregedoria da Polícia Militar (PM) investiga se os policiais militares falharam no atendimento da ocorrência por não terem feito o teste do bafômetro em Fernando. Sem o exame, não foi possível saber se o motorista do Porsche havia bebido.

A mãe do empresário também prestou depoimento e afirmou que os policiais militares tinham liberado seu filho do local do acidente para ir a um hospital. Mas a mulher não o levou para lá alegando que estava sendo ameaçada pelas redes sociais por causa do acidente causado pelo filho.

"Um sentimento de injustiça gigantesco dentro de mim", escreveu em seu Instagram, Luam Silva, filho do motorista por aplicativo Ornaldo, morto no acidente.
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