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Profissão de risco: saiba como é a preparação de vigilantes de carros-fortes e como é o veículo blindado

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Por Redação em 16/04/2024 às 05:08:06
Equipe da EPTV visitou escola que forma vigilantes há 27 anos e detalha como é o curso, as diferentes funções dos agentes e como um profissional formado enxerga a profissão. Entenda como é a formação de vigilantes de carros-fortes e o 'modus operandi' dos criminosos

Há uma semana, a região de Piracicaba (SP) registrou ataques a três carros-fortes e a uma agência bancária em três cidades diferentes em menos de 24 horas, seguidos pela prisão de dois suspeitos e morte de um terceiro em confronto com a polícia.

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De acordo com a polícia, os criminosos usaram fuzis, explosivos e carros de luxo nos ataques. Houve confronto com a polícia, incêndio de veículo e ruas foram bloqueadas durante as ações criminosas.

Em um dos casos, em Piracicaba, também conforme o registro policial, vigilantes de um carro-forte reagiram ao ataque criminoso e os assaltantes fugiram sem levar nada.

Nesta reportagem, entenda como esses vigilantes são formados para atuar nessa profissão de risco e como é o veículo blindado onde transportam altas quantias em dinheiro diariamente.

Câmeras registraram momento de ação dos criminosos na explosão de dois carros-fortes na Rodovia Washington Luiz, em Cordeirópolis

Reprodução/EPTV

250 horas de curso

A EPTV, afiliada da TV Globo, visitou uma escola de Campinas (SP) que forma vigilantes há 27 anos e é uma das mais tradicionais do estado.

Gerente-administrativo da instituição, Caio César Bucioli explica o período de formação.

"É um curso de 200 horas. Quando existe a homologação do curso, que ele pode trabalhar como vigilante, aí existe as especializações e uma delas é o transporte de valores. São 50 horas da aula, ele vai ter matérias específicas de atividades de transporte".

Do simulador para armas reais

Além das aulas teóricas, o aluno treina tiros em um simulador virtual. Depois, vai para um treinamento com armas reais como pistola calibre ponto 380.

O equipamento tem uma capacidade maior de munição. Enquanto um revólver pode ter até seis munições no tambor, a pistola chega a 19 no carregador. Isso aumenta a capacidade de reação do vigilante.

O treinamento ainda inclui uso de espingarda calibre 12. A arma tem maior força de impacto.

"Hoje, o que a gente utiliza de melhor em relação ao transporte de valores é o revolver no calibre .38, pistolas no calibre .380 e a espingarda no calibre 12", reforça Caio.

Na preparação também são ensinadas as técnicas de embarque e desembarque.

Aula de tiro em curso de formação de vigilantes

Jefferson Souza/ EPTV

Funções definidas

Em uma equipe de transporte de valores por carro-forte, cada profissional de segurança tem uma função.

"Existe o vigilante motorista, que é o responsável pela condução. Ele tem que ter uma habilitação específica para dirigir o carro-forte. Nós temos o vigilante chefe de equipe, ou fiel, que é o responsável pela condução do numerário. E nós temos os vigilantes de escolta, que é responsável pela cobertura de operação", elenca o gerente administrativo.

Como é o impacto desse risco na vida dos vigilantes?

A EPTV entrevistou um profissional que atua há 16 anos na área que comentou sobre os riscos frequentes.

"É um funcionário que 24 horas tem que estar atento. Sabemos que não há um ataque só em ruas, em asfalto, em descida, em bancos, mas também em sequestro, que aconteceu há muitos anos atrás. Entramos para trabalhar na área sabendo do risco que temos. O que temos que fazer é se preparar psicologicamente bem. Isso foi o que escolhi para mim, isso que eu quero dar continuidade. E luta, até quando Deus permitir".

Treinamento prático em curso para vigilantes

Jefferson Souza/ EPTV

Como é um carro-forte?

Os carros-fortes são preparados para suportarem o impactos de disparos de arma de grosso calibre, que é um dos principais modus operandis de quadrilhas de assaltantes que abordam esses veículos.

A cabine é blindada com várias camadas de aço. O vidro também é reforçado. Mesmo com tiros de fuzil 762 e pistola 9 milímetros, armas que são de uso restrito, o projétil não chega no interior do veículo, onde ficam os vigilantes.

O carro-forte é um caminhão de mais de oito toneladas e tem quatro lugares. Dentro dele, há um cofre na parte traseira.

Depois que o dinheiro é colocado dentro, os vigilantes não têm mais acesso. Só é aberto após uma sequência de senhas e autorização da empresa responsável. Cada empresa de valores investe em tecnologias para aumentar a segurança e que não são reveladas.

Veja como é um carro-forte por dentro

Reprodução/ EPTV

SSP diz priorizar combate a crime organizado

A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) informou que o combate ao crime organizado é prioridade da atual gestão da SSP. Comentou ainda que, além do policiamento preventivo e ostensivo e das ações investigativas, as polícias contam com o trabalho de setores de inteligência.

Ainda de acordo com a SSP, no primeiro bimestre deste ano, ações integradas entre as polícias na região do Departamento de Polícia Judiciária do Interior 9, com sede em Piracicaba, possibilitaram a apreensão de 157 armas de fogo ilegais, aumento de 6,8% na comparação ao mesmo período de 2023. E que o número de infratores presos e apreendidos também subiu.

Em janeiro e fevereiro de 2024, foram 2.934 e apreensões, 571 a mais que no ano anterior. Sobre o andamento das investigações em relação aos ataques na região, a SSP não respondeu.

Alunos durante aula prática do curso de vigilantes

Jefferson Souza/ EPTV

A seguir, entenda a linha cronológica dos ataques na região de Piracicaba no dia 8 de abril e da resposta da polícia a eles:

Madrugada de segunda-feira (8): a agência do Banco do Brasil da cidade de São Pedro (SP) foi atacada por uma quadrilha fortemente armada com fuzis e explosivos. A unidade ficou destruída e foram levados R$ 200 mil pelo bando, que bloqueou ruas e disparou contra policiais militares. Não houve registro de feridos.

Polícia investiga relação entre explosão de agência e roubo a carros-fortes na região

Criminoso dá pontapé para destruir porta de agência bancária em São Pedro, no interior de SP

EPTV/Reprodução

Final da tarde de segunda: Dois carros-fortes foram roubados na Rodovia Washington Luís (SP-310), em Cordeirópolis (SP), por assaltantes fortemente armados e com uso de explosivo. O grupo não conseguiu levar toda a quantia em dinheiro do blindado e abandonou um veículo Hyundai Santa Fé e um Mitisubishi Out Land na fuga. Não houve registro de feridos e o valor levado não foi informado.

Criminosos explodem carro-forte em rodovia na altura de Cordeirópolis

Polícia Militar/Reprodução Redes Sociais

Início da noite de segunda: Ocorre um novo ataque de carro-forte, na Rodovia Luiz de Queiroz (SP-304), em Piracicaba (SP), que é frustrado após reação dos vigilantes. Na fuga, os criminosos abandonam outro veículo Mitisubishi Out Land em chamas. Os vigilantes do veículo de transporte de valores não ficam feridos, mas foram encontradas manchas de sangue no local.

Veículo foi incendiado nas proximidades de ataque a carro-forte na Rodovia Luiz de Queiroz, em Piracicaba

Jefferson Souza/ EPTV

Final da noite de segunda: Policiais abordam, em um pedágio da Rodovia dos Bandeirantes (SP-348), em Hortolândia (SP), o ex-policial militar Ritchie de Souza Lima. Ele é flagrado com "miguelitos" (usado em fugas para cortar pneus). Em seu endereço, em Sumaré (SP), outro suspeito morre ao trocar tiros com a polícia e são apreendidos R$ 110,1 mil em dinheiro, quatro fuzis, munições, coletes de proteção balística, explosivos e outros materiais. Apontado como responsável por dar apoio logístico à quadrilha, Ritchie é preso.

Arsenal de suspeitos de assalto a banco em São Pedro incluía fuzis, munições e explosivos

Divulgação/Polícia Civil

Final da noite de segunda: A polícia localiza e prende, em Indaiatuba (SP), Társio Rodrigo da Silva, suspeito de ser o explosivista - operar os explosivos usado nas ações - do grupo . Segundo a polícia, ele já era procurado da Justiça por roubos a banco e carro-forte e foi flagrado com uma moto de origem ilegal.

Final da noite de segunda: O veículo Hyundai Santa Fé utilizado no roubo ao Banco do Brasil é apreendido na cidade de Analândia, sob indicação de Ritchie. O carro era do deputado federal Da Cunha (PP) e tinha sido furtado em março, na capital.

Carro do deputado Da Cunha, que tinha sido furtado em março, foi usado por criminosos em explosão a banco em São Pedro

Divulgação/Polícia Civil

Segundo a Polícia Civil, vão prosseguir as investigações para a identificação dos demais integrantes da organização criminosa. A corporação estima que entre 10 e 15 pessoas auxiliaram nas ações, devido à estrutura empregada.

William Marchi, delegado divisionário da Divisão Especializada em Investigação Criminal (Deic) de Piracicaba informou que há "bastante indícios" de que a mesma quadrilha tenha atuado nos três crimes: na agência do Banco do Brasil de São Pedro (SP), na Rodovia Washington Luís (SP-310), em Cordeirópolis (SP), e na Rodovia Luiz de Queiroz (SP-304), em Piracicaba (SP).

Entre ações que vão ser realizadas na sequência das apurações, estão análises de provas de DNA e exames periciais, provas testemunhais, trocas de informações com a Polícia Militar, Guardas Municipais e muralhas digitais.

"Tudo isso será certamente analisado, também vai ser corroborado com autorização judicial de quebra de sigilos, não apenas telemático como outras quebras de sigilo, fora trabalho de campo dos investigadores, com objetivo de confirmar se trata-se da mesma quadrilha, não apenas dos crimes de ontem, como outros crimes que estão sendo investigados aqui na Deic", acrescentou Marchi.

Cronologia de crimes e prisões dos ataques a agência e carros-fortes em Piracicaba

Arte/g1

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