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Mulher trans denuncia Carlinhos Maia por 'incitar violĂȘncia' após adolescente morrer depois de agressão em escola

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Por Redação em 21/04/2024 às 06:04:19
Influenciador disse que pessoas deveriam dar "cacete igual ou maior" em agressores. O estudante Carlos Teixeira morreu aos 13 anos, após sofrer agressões de colegas em uma escola estadual em Praia Grande (SP). Carlinhos Maia diz que pessoas deveriam dar 'cacete' em agressores de alunos em escolas

Uma mulher trans denunciou o influenciador Carlinhos Maia por comentários sobre violência em escolas, dias após Carlos Teixeira, de 13 anos, morrer depois de ser agredido por colegas em uma unidade estadual em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Nas redes sociais, o influencer se mostrou indignado com a situação e disse que pessoas deveriam dar um "cacete pior ou igual" nos agressores, que também são alunos (assista acima).

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Carlos Teixeira morreu após sofrer três paradas cardiorrespiratórias enquanto estava internado na Santa Casa de Santos (SP). O jovem precisou de atendimento médico após as agressões na escola, que aconteceram no dia 9 de abril.

Os vídeos de Carlinhos Maia sobre o assunto foram divulgados nos stories dele no Instagram. Nos conteúdos, que já não estão mais disponíveis na plataforma, ele afirmou que a comunidade "é a força da terra" e, se "todo mundo sabe" sobre uma agressão, as pessoas devem revidar.

"Estava acompanhando [o caso] e uma garota disse que 'toda a escola viu' eles levando [o menino] para o banheiro e batendo nele. Até quando as pessoas vão ficar vendo as coisas e permitindo?", questionou ele. "Se toda a escola viu, é entrar lá e dar um cacete pior ou igual [nos agressores]".

Moradora de Praia Grande, a catadora de recicláveis e também produtora de conteúdo Morena Flowers denunciou Carlinhos Maia no Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e na Delegacia Virtual de Alagoas, Estado do influenciador, por "incentivar a violência" contra menores de idade.

O g1 acionou a assessoria de Carlinhos Maia, em busca de um posicionamento sobre as acusações, mas não obteve um retorno até a última atualização desta reportagem. A equipe também procurou o MP-SP e a Secretaria de Segurança de Alagoas, mas também não responderam.

Mulher trans denuncia Carlinhos Maia (à esq.) após influenciador 'incitar violência' contra alunos agressores em escolas

Reprodução

Denúncia

Morena Flowers afirmou ter ficado indignada com os comentários de Carlinhos Maia na rede social. Ao g1, ela explicou ter feito as denúncias para que as autoridades "investiguem a conduta" do influenciador e "promovam a remoção dos conteúdos para evitar uma escalada de violência".

"Como sociedade, não podemos admitir que alguém ameace ou convoque pessoas para bater em crianças. Existe um motivo para elas não serem imputáveis penalmente, é porque não têm a formação de caráter pleno", disse Morena.

Por fim, ela falou que os agressores tiveram atitudes horríveis contra a vítima, mas ressaltou a responsabilidade de Carlinhos ao falar para um grande público. "O cara tem mais de 30 milhões de seguidores. Como uma pessoa desse 'naipe' diz: 'Junta todo mundo e bate nessas crianças'?".

Vídeo mostra adolescente sendo agredido em escola no litoral de SP

Incitação à violência

O g1 ouviu dois advogados sobre incitação à violência na internet. De acordo com os profissionais, é possível denunciar alguém por algo que essa pessoa disse nas redes sociais, mesmo que o denunciante não seja o alvo direto ou não esteja envolvido - como é o caso de Morena Flowers.

Segundo o advogado criminal Mario Badures, a fala de Carlinhos Maia é um visível caso de incitação ao crime, apesar do influenciador ter exposto a própria indignação sobre a morte do estudante.

"A partir do momento que ele incitou uma gama de pessoas a praticar o crime de lesão corporal, ele cometeu de fato a incitação", explicou o advogado. "O tom de revolta ou exteriorização de indignação não permite que a violência seja estimulada, rompendo-se o direito de liberdade de expressão".

Já o advogado Thyago Garcia acrescentou que o crime de "incitação ao crime" é abordado no artigo 286 do Código Penal.

"Esse artigo estabelece que é crime incitar, publicamente, a prática de crime. Isso significa que qualquer pessoa que instigue, estimule ou encoraje publicamente alguém a cometer um crime pode ser responsabilizada criminalmente. As penalidades para esse crime podem incluir detenção, que varia de três a seis meses, ou multa", finalizou ele.

Carlos Teixeira, de 13 anos, foi agredido por estudantes em Praia Grande (SP)

Arquivo Pessoal

Carlos Teixeira

Carlos Teixeira morreu na terça-feira (16), na Santa Casa de Santos. O pai afirmou que o filho era saudável e acredita que a morte aconteceu em decorrência da agressão sofrida. Segundo apurado pelo g1, o caso foi registrado na Polícia Civil e a causa da morte ainda está sendo investigada.

Julisses afirmou que os médicos disseram que a suspeita era de que a causa da morte seria uma infecção no pulmão. Em nota, a Santa Casa de Santos confirmou a transferência da UPA Central, mas disse não ter autorização para dar mais informações sobre o caso.

O g1 teve acesso à declaração de óbito que vai servir como base para o atestado, que leva de 30 a 90 dias para ficar pronto. No documento, a causa da morte consta como broncopneumonia bilateral, um tipo de inflamação nos alvéolos, estruturas dos nossos pulmões responsáveis pela troca de oxigênio com o sangue.

O estudante sofria bullying com frequência e já tinha sido agredido em outras oportunidades. Um vídeo obtido pela equipe de reportagem mostra um dos episódios em que o garoto foi vítima dentro da unidade escolar (veja acima).

Análise médica

Antes da declaração de óbito, a pedido do g1, os médicos clínicos Carlos Machado e Marcelo Bechara analisaram o caso com base nas próprias experiências profissionais e nas informações passadas pela equipe de reportagem.

Ambos afirmaram que o excesso de peso nas costas pode ter levado a um trauma -- lesões causadas por um evento traumático externo ao corpo e que acontece de forma inesperada.

Declaração de óbito de adolescente em Praia Grande (SP) traz como causa da morte uma broncopneumonia bilateral

Reprodução

De acordo com Carlos Machado, o trauma pode ter sido uma fratura ou esmagamento da vértebra na coluna cervical, torácica e até na costela.

"Se ele estiver com uma dessas lesões, [...] podia estar furando o pulmão, o que dificulta a respiração e, respirando menos, faz com que tenha secreção acumulada, que é uma infecção pulmonar", afirmou o profissional.

Marcelo Bechara acrescentou que, pelo mesmo motivo, ocorre uma parada cardiorrespiratória. "O excesso de peso nas costas podem ter levado a um trauma que pode levar a um pneumotórax [...], [quando] o pulmão não consegue ventilar e uma hora chega a parada cardíaca mesmo", disse ele.

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