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Morre Terezinha RĂȘgo: referĂȘncia mundial em fitoterapia, pesquisadora ajudou milhares a combater doenças com plantas

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Por Redação em 03/05/2024 às 12:27:04
Terezinha dizia que era mais lembrada no exterior do que no próprio país, apesar de décadas de trabalho. Como destaque, está a contribuição que deu para o combate à pneumonia asiática, em 2003, que rendeu uma homenagem pelos chineses. Terezinha Rêgo em 1970 e atualmente

Arquivo pessoal

A pesquisadora Terezinha Rêgo, que morreu na madrugada desta sexta-feira (3) , foi uma cientista brasileira emblemática na área da saúde popular no mundo, por meio das plantas medicinais. Era uma forma de garantir que os mais carentes poderiam, literalmente, plantar sua própria farmácia.

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"Deixou um legado imensurável para a fitoterapia com sua dedicação ao estudos das plantas medicinais. (...) Sua representação na pesquisa Etnobotânica fora do Brasil é orgulho para todos nós que nos dedicamos a trabalhar com as plantas medicinais", declarou Maria Angélica Fiut, presidente da Associação Brasileira de Fitoterapia (ABFIT), ao g1.

Legado

Natural de São Luís, Terezinha foi pesquisadora por mais de 50 anos e se tornou referência no estudo da Fitoterapia, Hortas Medicinais, Medicina Popular, Pré-Amazônica, Etnobotânica e Espécies Medicinais.

Terezinha Rego foi pioneira no estudo da fitoterapia e da flora maranhense

Arquivo/Governo do Maranhão

Com um dos seus principais feitos, estão medicamentos com plantas medicinais que ajudam no combate a doenças no Brasil e no mundo. Porém, Terezinha sempre criticou a pouca valorização desta área no Brasil, um país tão diverso em flora e com histórico de uso das plantas medicinais pelos indígenas.

"Eu consigo ser mais reconhecida no exterior do que aqui no país, o que chega a ser uma ironia. No Brasil há um incômodo em relação à fitoterapia, já que as tradicionais multinacionais, por exemplo, não querem que este trabalho tenha um desenvolvimento maior. Daí a resistência que alguns profissionais ainda têm quanto a esta importante fonte do conhecimento", destacou a farmacêutica em uma entrevista ao jornal O Estado do Maranhão, em 2017.

Professora Terezinha Rêgo mostra a união da medicina tradicional com a sabedoria popular

Terezinha Rêgo

Arquivo pessoal

Valorização internacional

Terezinha foi reconhecida internacionalmente por seu trabalho com plantas medicinais, como na Holanda, Portugal, Itália, Londres e outros países que se beneficiavam com as suas medicações.

Dentre os principais destaques, estão três medicamentos fitoterápicos (Essência de Cabacinha, Xarope de Urucum e Tintura de Assa-Peixe), que auxiliaram no tratamento da pneumonia asiática (Sars). Durante o surto da doença, em 2003, os chineses aprenderam a produzir o Xarope de Urucum, planta tipicamente amazônica e contribuiu para o tratamento de muitas pessoas.

O urucum é uma fruta popular, utilizada para diferentes finalidades.

Internet/Divulgação

Esse conhecimento foi exportado por meio dos estudos de Terezinha, através de um intercâmbio entre universidades chinesas e a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), onde a pesquisadora coordenava o Programa de Fitoterapia.

A contribuição de Terezinha rendeu uma homenagem, no mesmo ano, pelos chineses, por meio de um certificado foi entregue pelo Conselho Superior de Cultura da Câmara de Comércio Brasil-China, e por Uta Tang Schwietzer, diretora cultural do mesmo Conselho.

Terezinha Rêgo era referência no estudo de plantas medicinais no Maranhão

Reprodução/TV Mirante

Antes, nos anos 90, Terezinha foi eleita, em Cuba, representante de Etnobotânica junto à América Latina, de 1990 a 1994.

A pesquisadora também ganhou em Córdoba na Espanha, um prêmio de Etbotânica pelo seu trabalho com os indígenas canelas, em 1990, onde passou vários dias na aldeia selecionando e classificando as plantas deles para uso medicinal.

Terezinha Rêgo era apaixonada pela área da farmácia com uso de plantas e atendia muitas pessoas na UFMA

Reprodução/TV Mirante

Essência de cabacinha

Fruto de 20 anos de pesquisa, a essência de cabacinha é um dos fitoterápicos mais importantes da carreira de Terezinha Rêgo e foi reconhecido por diversos cientistas. Também foi o primeiro fitoterápico desenvolvido pela pesquisadora.

O medicamento natural, produzido por meio da infusão do fruto da cabacinha (encontrada grande parte do Brasil), em álcool, é indicado para tratamento de sinusite, renite e problemas na adenóide.

Luffa operculata (cabacinha)

UFSC

Terezinha Rego também pesquisou a chanana, uma flor amarela tem uma substância energética usada para melhora no sistema imunológico. O componente foi usado no tratamento do câncer no Hospital Aldenora Bello, em São Luís.

Em 2019, Terezinha foi homenageada pelo Senado Federal pelos 55 anos de dedicação aos estudos da flora medicinal maranhense, em especial a cabacinha, que ajudou a levar tratamento de baixo custo a milhares de pessoas carentes.

"Sempre busquei valorizar a flora do meu Estado e divulgar a sua potencialidade para o Brasil e para o mundo", afirmou Terezinha, na ocasião, quando já tinha mais de 48 produtos naturais lançados, além de livros dedicados ao tema.

Terezinha Rêgo recebeu homenagem no Senado, em 2019, pelo trabalho realizado no Brasil

Agência Senado

Histórico profissional

Terezinha foi ainda professora titular do Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) desde 1977, onde também atuou como assessora da instituição e coordenou o Polo de Biotecnologia do Maranhão – MAR-BIO.

Terezinha Rêgo em sua formatura no Maranhão

Arquivo pessoal

Se tornou Doutora em Botânica pela Universidade de São Paulo (USP), foi membro fundadora da Academia Maranhense de Ciências e também fundou o projeto de extensão em Fitoterapia no Herbário Ático Seabra, que cataloga quase 11 mil espécies da flora do Maranhão.
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