O trabalho de Pia Sundhage parecia incontestável na seleção feminina até os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Esse cenário vem mudando desde então. No ciclo pré-Copa do Mundo, a técnica sueca provou que tem mesmo o DNA de renovação que tanto fala, mas ao mesmo tempo comete erros difíceis de entender.
Decisões que nem ela consegue explicar. Nesta terça-feira (27),
Pia convocou suas 23 atletas para a disputa da Copa do Mundo da Nova Zelândia e da Austrália, que começa no dia 20 de julho. Nomes esperados da nova geração apareceram na lista, assim como o de algumas veteranas que ajudam a construir um ambiente de desenvolvimento saudável para as estreantes na Copa.
Convocações de Bárbara e Mônica são um retrocesso
O que poderia ser uma lista de ouro se perde entre escolhas bizarras. Na lista das decisões incompreensíveis, que já tinha os poucos minutos dados à Formiga em sua própria despedida da camisa amarelinha, a sueca adicionou a convocação de Bárbara e Mônica para a competição.
A goleira do Flamengo, por exemplo, não veste a camisa da seleção desde 30 de julho de 2021, ainda nos Jogos Olímpicos. São quase dois anos sem ser convocada. Luciana, da Ferroviária, que há tempos figura entre as melhores da posição e havia sido convocada nos últimos amistosos, perdeu a vez. Mesma situação de Mônica.
Dentro do discurso repetitivo “de renovação” da sueca, levar a zagueira do Madrid CFF, de 36 anos, é incoerente principalmente por ela não ter feito parte do ciclo da Copa. A última convocação de Mônica aconteceu nos amistosos seguintes da Olimpíada no Japão.
Mas e aí? Quem levar no lugar? Uma substituta poderia ser Fê Palermo, que integrou o elenco em várias convocações nos últimos quatro anos. A lateral do São Paulo é uma espécie “coringa” do Tricolor, joga em mais de uma posição, e já está adaptada ao estilo de jogo de Sundhage.
Tainara, convocada entre as suplentes, também poderia ser titular no lugar de Mônica, ou até mesmo Tarciane e Yasmin, ambas do Corinthians, que vivem boa fase. São algumas as opções.
Cristiane merecia despedida da seleção
Se a experiência de jogadoras é benéfica em uma competição desse porte, o rompimento brusco entre seleção brasileira e Cristiane Rozeira é um grande mistério. Pia escanteou uma das maiores atletas da história do
futebol feminino e impediu que ela tivesse uma despedida à sua altura.
Aliás, a treinadora demonstrou um incômodo acima do tom ao ser questionada sobre o motivo de não levar a artilheira do Santos na temporada para o Mundial.
- Eu realmente falo que a primeira vez que eu vi um jogo foi do Internacional, quatro anos atrás. Tive que me acostumar com um diferente tipo de futebol. Tenho que dizer que após quatro anos está muito melhor. Os jogos são mais competitivos. Quanto melhor for o Brasileirão, melhor será a seleção brasileira. Mas temos também jogadoras nos Estados Unidos, na Europa, isso é muito importante - disse Pia em coletiva na sede da CBF.
- Acho que, para mostrar respeito às 26 jogadoras que estamos levando, quero falar destas jogadoras. Elas são as principais na Copa do Mundo - completou a treinadora.
É interessante ver que Pia usou algumas vezes o nível do futebol brasileiro, bem inferior ao da Europa, para justificar a ausência de Cristiane em outras convocações. No entanto, ela vai levar Bia Zaneratto, do Palmeiras, que faz uma temporada levemente inferior à da atacante de 38 anos.
Esta, sem dúvida, seria a última Copa de Cristiane, mas parece que Pia não se importa tanto com a despedida de uma das maiores referências do futebol. E o problema é que renovação vai muito além de ter sangue novo em campo. Encerrar ciclos com dignidade é fundamental.
Afinal, quem não gostaria de ver Marta e Cristiane juntas pela última vez? Bom, pelo jeito a técnica da seleção brasileira.