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"Frieza", "audácia" e "menosprezo pela vida": veja trechos da sentença de Flordelis e Simone

Por São Paulo Jornal em 13/11/2022 às 17:50:44
Juíza Nearis Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, descreveu as características que levaram ao aumento de pena dos condenados pela morte do pastor Anderson do Carmo. A cantora, pastora evangélica e ex-deputada federal pelo PSD Flordelis dos Santos de Souza, de 61 anos, é cercada por seus advogados durante julgamento no Tribunal do Júri de Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, nesta segunda- feira, 07. Três anos e quase cinco meses após o assassinato a tiros do pastor Anderson do Carmo, sua mulher, Flordelis dos Santos de Souza, será julgada a partir da segunda-feira, 07. Ela foi denunciada pelo Ministério Público do Estado como a mandante do crime, mas nega a acusação. Seis pessoas já foram condenadas no caso.

MAURICIO ALMEIDA/W9 PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

A pastora e ex-deputada Flordelis foi condenada a 50 anos de prisão neste domingo (13) pelo assassinato do pastor Anderson do Carmo. Sua filha, Simone dos Santos Rodrigues, também foi considerada culpada, com pena de 30 anos.

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Veja abaixo os trechos da sentença.

Julgamento de Flordelis: veja o que aconteceu

'Frieza e menosprezo pela vida humana'

A juíza Nearis Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói afirma que Flordelis e Simone agiram com “frieza e menosprezo à vida humana” ao planejarem a morte do pastor Anderson do Carmo, em 2019.

O pastor foi executado por volta das 4h, com diversos tiros, pouco tempo após chegar em casa.

“Os diversos disparos efetuados contra a vítima de apenas 42 anos de idade concentram-se em regiões vitais como crânio, tórax e abdome, conforme acima mencionado, sendo esta morta em horário de repouso noturno, no imóvel de moradia também de inúmeros filhos adotivos e de 'criação' da vítima, evidenciando ainda mais a frieza e menosprezo pela vida humana durante a empreitada criminosa praticada”, diz a sentença.

Em outro trecho o documento destaca o sofrimento ao qual o pastor foi submetido. “Emprego de meio cruel, posto que alvejada por dezenas de disparos de arma de fogo, inclusive na região próxima às genitálias, agonizando com imenso sofrimento até sua morte”, ressaltou a sentença.

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Quando justifica a condenação de Flordelis e de Simone para o crime de homicídio triplamente qualificado, a magistrada diz que elas praticaram o crime “com audácia extremamente reprovável, prestando auxílio no planejamento e no convencimento de terceiros para executarem de forma fria e cruel a vítima Anderson do Carmo de Souza”.

“A ação criminosa evidencia, portanto, verdadeira e bárbara execução, caracterizando uma demonstração explicita de ódio”, diz a sentença.

Réus: Marzy Teixeira, ao fundo, Rayane dos Santos, Simone dos Santos (de óculos). À frente, Flordelis e o filho André Luiz

Brunno Dantas/TJRJ

'Brutal morte arquitetada'

Adiante, a juíza afirma Flordelis e Simone foram responsáveis por “consequências desastrosas e demasiadamente graves”, como os danos psicológicos causados a toda a “numerosíssima família, integrada também por menores de idade".

“Os danos psicológicos, em especial para os genitores da vítima, se mostraram ainda mais devastadores, posto que esta foi retirada do seio familiar precoce e brutalmente, em evidente inversão da ordem natural dos fatos, acirrando ainda mais o sofrimento de ambos, diante da brutal morte arquitetada; tomando ainda mais gravosa a conduta da acusada”, diz a sentença.

A juíza afirma ainda que “o delito se mostra ainda mais repugnante” porque, segundo depoimentos de testemunhas, Anderson era dedicado à criação dos filhos e responsável em parte pelo sucesso de Flordelis em suas carreiras na política, artística e religiosa.

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“Destaca-se, ainda, que o bárbaro crime em tela trouxe grande abalo à sociedade como um todo, com repercussão que ultrapassou as fronteiras do país, diante da brutalidade que traduziu, descortinando a faixada [sic] de "família perfeita" que era pregada em especial nas Igrejas coordenadas por seus integrantes e que se tornou conhecida internacionalmente por meio até mesmo de um filme.”

A sentença diz ainda que Flordelis demonstrou que o crime teve motivação torpe por “vingança vil e abjeta em razão de a vítima manter rigoroso controle das finanças do grupo familiar e administrar os conflitos da casa de forma rígida, não permitindo que houvesse tratamento privilegiado das pessoas mais próximas à acusada”.

Sobre o envolvimento de Simone, a juíza justifica o enquadramento no crime de associação criminosa dizendo que a filha de Flordelis integrou desde o início o grupo que planejou o assassinato, “auxiliando na formulação e execução do pérfido plano de pôr fim à vida de Anderson”.

Em observação na sentença, a magistrada ainda faz menção ao fato de que Simone foi namorada de Anderson do Carmo antes do relacionamento do pastor com Flordelis.

“A circunstância de ser a vítima dos crimes dolosos contra a vida praticados padrasto e ex-namorado da ré torna o delito ainda mais desprezível e grave”, diz a decisão.

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Envenenamento

Sobre Flordelis, a juíza ressalta que a ex-deputada se aproveitou das relações domésticas e de coabitação para a execução do crime, “além de ser a responsável por organizar e dirigir a atividade dos demais agentes, sobre os quais ela exercia grande poder e influência”.

O inquérito mostra que foram feitas tentativas de envenenamento do pastor, promovidas por Marzy Teixeira, filha adotiva de Flordelis. Segundo a investigação, esse foi o primeiro plano da ex-deputada para matar o marido: envenenando-o aos poucos com arsênico e cianeto. Foram pelo menos seis tentativas -- e idas ao hospital.

“A dedicação da ré ao planejando e praticando atos executórios para 'intoxicação exógena' gradativa da vítima, de forma a tentar ocultar o envenenamento, evidenciam ainda mais suas total frieza e menosprezo pela vida humana”, diz a juíza.

“A ação criminosa evidencia, portanto, diante de seu prolongamento no tempo, frieza incomum, caracterizando demonstração explícita de ódio. A dedicação da ré planejando e praticando atos executórios para "intoxicação exógena" gradativa da vítima, de forma a tentar ocultar o envenenamento, evidenciam ainda mais sua total frieza e menosprezo pela vida humana”, prossegue.

“Ainda mais grave a conduta da ré em decorrência de ser na ocasião Deputada Federal, eleita pelo povo, e que deveria na verdade zelar pelo cumprimento das leis.”

Em relação ao envolvimento de Simone no episódio, a juíza afirma que além da participação no crime, a filha de Flordelis prestou auxílio na “escolha e aquisição da substância tóxica utilizada por meio de pesquisas na internet em busca de tipos de veneno que fossem letais e possíveis de se adquirir”.

Flordelis e Anderson do Carmo

TV Globo

'Extrema audácia da ré'

A juíza faz menção à carta forjada para tentar inocentar Flordelis, em que um de seus filhos confessa ter matado o pai. No texto, Lucas Cezar dos Santos de Souza, um dos filhos adotivos da ex-deputada, dava uma versão para o crime.

“O documento de conteúdo falso com o objetivo de ser juntado até mesmo nos autos da ação penal em curso, como já salientado, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante”, diz.

“Diante das consequências do delito que se revelam graves, com a utilização do documento falsificado em inquérito e processo crime, contendo em seu teor imputação de prática de delito de natureza grave, doloso contra a vida, a terceiras pessoas sabidamente inocentes, evidenciando ainda mais a extrema audácia da ré.”

Lucas, apontado como responsável pela compra da arma usada no crime, foi condenado a 7 anos e meio de prisão, por homicídio triplamente qualificado e teve a pena reduzida por ter colaborado com as investigações.
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