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Por que o Twenty One Pilots representa fase da música em que ninguém liga para estilo musical?

Por São Paulo Jornal em 24/03/2023 às 03:54:47
Dupla foi escalada no lugar do Blink 182 no sábado (25) de festival. Ao g1, baterista lembra como trocou trompete por bateria após ver shows de jazz com o avô. Podcast explica o som da banda. Josh Dun e Tyler Joseph, do Twenty One Pilots

Divulgação/Elektra Records

Escalado de última hora para substituir o Blink 182, no sábado (25) de Lollapalooza, o Twenty One Pilots já conhece bem os atalhos para conduzir a multidão no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. E fazem isso com uma música difícil de ser definida: tem rap, rock, disco music, R&B, eletrônica...

"Antes, você conseguia facilmente dizer quem ouvia o quê. Todos meio que usavam estilos de roupas diferentes", diz o baterista Josh Dun ao g1. "Agora, acho que os gêneros são um pouco mais sem fronteiras."

Este será o terceiro Lolla da dupla americana, após vindas em 2016 e 2019. Será o primeiro Lolla, no entanto, em que os dois não estarão sozinhos no palco. Eles começam e terminam desacompanhados, mas músicos entram e saem do palco, em dinâmica que funcionou bem quando tocaram no festival GPweek, no ano passado, em São Paulo.

Ao g1, o baterista falou sobre esse entra-e-sai de músicos e disse que fica "nervoso" quando vê o vocalista Tyler Joseph escalando estruturas de som ou de iluminação quando eles cantam "Car Radio". Ele falou ainda sobre como seu avô o apresentou ao jazz (e ao baterista Buddy Rich, até hoje seu favorito) e como um papo com sua avó ajuda a explicar a evolução da banda.

Leia a entrevista abaixo e ouça no podcast acima.

g1 - Eu vi o show em 2016 e 19 no Lollapalooza, e o do ano passado... Suas turnês parecem ficar cada vez maiores e com mais influências musicais diferentes. Do palco, você percebe que tudo está cada vez maior e que vocês vêm evoluindo?

Josh Dun - Bem, obrigado por dizer isso... acho que às vezes me sinto como quando você não vê sua avó há muito tempo: você era criança e depois vai ver sua avó de novo e ela diz "você está ficando tão alto, ein?” e você meio que sente que não, ainda é o mesmo. Eu me sinto assim às vezes.

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Quando penso melhor e olho para as filmagens antigas de nossos shows, eu penso: “Uau! Parece que evoluímos, mudamos, crescemos ou melhoramos em algumas dessas coisas." E isso é sempre divertido de fazer.

Acho que o objetivo é sempre melhorar e é por isso que gostamos de ver imagens antigas e criticar e pensar: "Como poderíamos fazer melhor? O que podemos mudar para tornar o impacto mais forte?" Então, de certa forma, eu me sinto assim. E outras vezes sinto que somos os mesmos de sempre.

g1 - Uma das minhas favoritas dentre as mais novas é “The Outside”, porque gosto muito do groove da música, principalmente ao vivo. Como é tocá-la ao vivo?

Josh Dun - “The Outside” é um bom exemplo sobre o que queríamos com as conversas que a gente teve antes de começarmos a turnê deste álbum. Estávamos decidindo se queríamos ou não trazer músicos extras para tocar algumas músicas. O show começa só com Tyler e eu; e termina só com Tyler e eu. Então, temos uns caras entrando e saindo do palco durante o show.

Tyler Joseph e Josh Dun, do Twenty One Pilots

Divulgação/Elektra Records

“The Outside” é uma espécie de introdução: começa com uma batida de bateria e, em seguida, um por um, cada um dos membros da banda é apresentado. Então, acabamos tocando todos juntos. Esse é um momento do set que eu fico sempre querendo que chegue logo.

g1 - Falando sobre outro momento impactante do show... quando vejo que está chegando a hora de 'Car Radio', fico um pouco ansioso porque não sei onde o Tyler vai subir. Como você se sente? Já teve alguma hora que você pensou que ele poderia cair? Alguma vez você ficou preocupado com essa parte do show?

Josh Dun - Sim! Fico confiante de que ele sempre tenha um pouco de juízo neste momento. Na real, durante todo o show. Mas sempre há algo que pode dar errado.

Teve uma vez que estávamos tocando no Japão e ele colocou uma câmera GoPro em um suporte e ficou com a GoPro no peito durante a subida. Depois do show, estávamos vendo aquela filmagem e talvez tivesse a ver o ângulo da câmera, era uma tomada ampla... Cara, aquilo me deixou nervoso demais assistindo, mais do que quando assisto sentado na bateria.

Tyler Joseph canta no Lollapalooza 2019

Diego Baravelli/G1

"Mas sim, definitivamente há momentos em que a gente chega em um palco mais cedo e caminhamos para ver onde ele vai escalar e ele diz: 'É, eu vou escalar essa coisa'. E eu fico tipo: 'Você vai escalar aquela coisa?' Então, sim, isso pode me deixar nervoso, com certeza."

g1 - Em 2006, você e eu conversamos antes do seu primeiro show aqui e você me disse que Buddy Rich tinha sido tipo um professor para você. Você contou que aprendia muito com ele, assistindo vídeos no YouTube. Você ainda faz isso? Poderia explicar para os nossos leitores por que ele é um baterista tão bom?

Josh Dun - Essa é uma ótima pergunta. E você se lembra disso! Você tem uma memória incrível… no início, eu realmente fui apresentado à música por meio do trompete. Meu avô me levava para ver a Orquestra de Jazz em Columbus, em Ohio, de onde eu sou. Então, eu tocava trompete e teve ia assistir a esses shows de jazz, daí ficava vendo o baterista.

Twenty One Pilots se apresenta no Lollapalooza

Flavio Moraes/G1

Então, ouvi falar de Buddy Rich e assisti a vídeos dele. Havia algo na maneira como ele tocava que tinha muita paixão. Mas também dava para perceber o talento bruto que ele tinha. Esse foi, eu acho, um dos meus primeiros momentos de inspiração para tocar bateria. E a maneira como ele tocava parecia que não havia regras.

Sempre adorei a bateria, especialmente por mudar de um instrumento melódico em que parecia que havia muitas regras, pelo menos para mim. Eu meio que queria aprender sozinho, mas também aprender assistindo a vídeos de grandes bateristas. Buddy Rich foi um dos primeiros caras para mim.

g1 - Hoje, parece que perguntas como 'Que tipo de música você gosta?' são meio antiquadas. Você concorda que antes a gente se preocupava mais com rótulos e estilos? A gente ouvia perguntas como “Twenty Pilots é uma banda de rock?”, mas hoje quase ninguém que é mais novo se importa com esse tipo de coisa, certo?

Josh Dun - Sim! Claro que é muito natural criar rótulos para os artistas, e é por um bom motivo. Acho que você meio que quer que as pessoas nos conheçam. Muitas vezes, eu pego um Uber e alguém pergunta “Que tipo de música você toca?” E eu fico tipo “Hm, é meio difícil de descrever”, mas eu entendo por que alguém faria essa pergunta, você quer saber do som, entender no que você está se metendo.

Twenty One Pilots: Josh Dun e Tyler Joseph

Divulgação/Elektra Records

Mas eu acho que tem sido definitivamente muito menos assim agora. Eu me lembro que ia para a escola e todas as crianças meio que se identificavam de uma certa forma com o tipo de música que ouviam. Então, eu tinha amigos que eram os garotos do rock; depois, os garotos que gostavam de ouvir pop; depois, os garotos que ouviam hip hop. Antes, você poderia facilmente dizer quem ouvia o quê. Todos meio que usavam estilos de roupas diferentes. Isso era legal, de certa forma.

"Acho que sempre adorei a ideia de uma música um pouco mais unificadora do que a gente ter que dividir tanto. Agora, eu acho que os gêneros são um pouco mais sem fronteiras."

Eu acho que as pessoas podem se expressar estilisticamente de uma forma que não representa necessariamente um estilo de música só, um gênero só que eles ouçam. Eu acho que isso melhora tudo, ajuda a tornar a música um pouco mais inclusiva, na minha opinião.
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