TV NEWS

Saúde mental de policiais: comandante da PMDF diz que tema 'está sendo priorizado'

.

Por Redação em 20/01/2024 às 06:03:33
Após tragédia envolvendo sargento que enfrentava problemas psicológicos, matou um soldado e tirou a própria vida, a coronel Ana Paula Barros Habka concedeu entrevista ao g1. 'Tenho obrigação de cuidar dos meus policiais. Eu sinto muito não ter evitado', disse. Comandante-geral da PMDF, Ana Paula Barros Habka

Divulgação/PMDF

A saúde mental dos policiais militares do Distrito Federal ganhou destaque na última semana, após o soldado Yago Monteiro Fidelis, de 31 anos, ser baleado e morto pelo colega, o sargento Paulo Pereira de Souza, de 46 anos, dentro de um viatura. O sargento também atirou em si mesmo e morreu no local (relembre ao final da reportagem).

? Clique aqui para seguir o canal do g1 DF no WhatsApp.

As mortes aconteceram na tarde de domingo (14). Os militares eram colegas no Batalhão do Recanto das Emas.

Segundo a família e colegas de trabalho, Souza enfrentava problemas psicológicos. Ele passou pela junta médica da PMDF que acabou transferindo o sargento do Batalhão do Gama – onde trabalhou durante 9 anos – para o Batalhão do Recanto das Emas.

A recém empossada comandante-geral da PMDF, Ana Paula Barros Habka, afirma que está comprometida em cuidar da saúde mental dos policiais.

"Eu tenho obrigação de cuidar dos meus policiais. Eu sinto muito não ter evitado", diz a coronel.

Ana Paula tem 49 anos, assumiu o comando-geral da PMDF no dia 9 de janeiro, e é a segunda mulher a ocupar o cargo. A primeira foi a coronel Sheyla Soares Sampaio, que ficou no cargo entre janeiro e agosto de 2019.

Em entrevista ao g1, a nova comandante-geral da PMDF fala sobre os desafios e os projetos para dar mais atenção à saúde mental dos policiais (leia entrevista abaixo).

g1: Assim que assumiu o comando-geral da PM, a senhora levantou a pauta da saúde mental dentro da corporação. Após a tragédia, como avalia a saúde mental dos policiais?

Comandante Ana Paula: De uma forma geral, a tropa tem se apresentado ao serviço e às atividades de maneira regular. Todos os casos pontuais apresentados no ano de 2023 foram atendidos (veja a quantidade de atestados homologados no ano abaixo). Friso ainda que não apenas nossos policiais militares da ativa foram atendidos, mas todos os da reserva remunerada, bem como os dependentes e pensionistas foram assistidos neste período. Não há fila de espera para atendimento psicológico ou psiquiátrico na PM.

g1: O que pretende fazer para que a saúde mental dos policiais seja tratada com mais atenção?

Comandante Ana Paula: Na verdade, essa preocupação não é recente. No ano de 2022, a PMDF capacitou uma equipe de policiais no atendimento e prevenção ao suicídio e melhoria da saúde mental da nossa tropa.

Em 2023, a Capelania realizou em torno de 400 atividades com foco em desenvolvimento pessoal e prevenção de vários problemas, como a violência e o suicídio. Essas atividades contemplam atendimentos pessoais, mentorias financeiras e conjugais, palestras, campanhas e seminários. Essas atividades foram realizadas nas capelas, nos quartéis e nos cursos de carreira. Foram alcançados mais de 3 mil policiais militares.

Foram realizadas quatro reuniões do projeto "Sentinelas da Vida", que qualifica policiais de todos os batalhões para identificar risco de suicídio e encaminhar para a rede de apoio, tendo atualmente 76 policiais cadastrados como sentinelas.

Foi realizado o 2º Congresso de Saúde Integral e Valorização da Vida, com palestras sobre prevenção ao suicídio para comandantes e para a tropa em geral. Atingiu cerca de 400 policiais.

g1: Quando um PM é afastado por ordem médica, algum benefício é afetado? O salário é pago normalmente ou tem algum corte?

Comandante Ana Paula: Nenhum policial afastado do serviço de rua, ou administrativo, tem corte salarial.

g1: Como funciona a junta médica da PM? Há especialistas de todas as áreas? Há quantos psicólogos e psiquiatras?

Comandante Ana Paula: A PMDF possui diversas redes credenciadas no sistema de saúde da Polícia Militar, atualmente contando com clínicas de todas as especialidades para atendimento, inclusive de tratamento odontológico. Além disso, a PMDF oferece assistência psicológica 24 horas por dia, sete dias por semana, através da Capelania Militar e do Centro de Promoção e Qualidade de Vida.

Quanto ao próximo concurso para médicos, há a previsão de cinco vagas para psiquiatras, sendo três para provimento imediato e duas para cadastro reserva. Essa iniciativa reforça o compromisso da instituição com o cuidado integral à saúde dos seus membros.

g1: Como é o processo para a marcação de consultas e exames? Leva em média quanto tempo?

Comandante Ana Paula: O orçamento destinado à saúde policial militar não é ilimitado. Durante o ano de 2023 foram suspensos alguns serviços eletivos (apenas de junho a setembro). Mas é importante ressaltar que os atendimentos de emergência, bem como as consultas oncológicas, psicológicas, psiquiátricas e de homecare não ficaram suspensas por um único dia sequer.

Todo policial militar, assim como seus familiares, foram atendidos. De setembro de 2023 até o dia de hoje [sexta-feira, 19 de janeiro], toda a rede de atendimento encontra-se regularmente em funcionamento: urgência, emergência, eletivos, laboratórios e odontologia.

Mais de 4,5 mil atestados por problemas psiquiátricos em 2023

Segundo a comandante-geral da PMDF, em 2023 houve mais de 4,5 mil atestados de afastamento — quando o PM não pode trabalhar — e de restrições às atividades policiais — quando pode trabalhar, com limitações.

Afastamento: 2.525 atestados

Restrições às atividades: 2.047 atestados

Projetos em andamento

Segundo a comandante, neste ano, o Departamento de Saúde da corporação continuará intensificando o "Programa de Valorização da Vida" nos quartéis. O atendimento é feito todos os dias da semana, presencialmente ou por ligação telefônica 24h por dia, por meio da Capelania com o Serviço de Assistência Religiosa (SAR) e com a Seção de Bem-Estar Social (SBS).

Além disso, de acordo com Ana Paula Barros Habka, outras ações estão sendo colocadas em prática para atender os militares:

Contratação de mais psiquiatras militares pelo concurso em andamento;

Alocação de médicos da Associação dos Médicos de Hospitais Privados (AMJP/DF) nas instalações do Centro Médico da PMDF. "Apesar da prioridade estar na contratação direta e imediata de psicólogos e psiquiatras, a PMDF poderá contratar todas as outras especialidades", explica Ana Paula;

A partir de segunda-feira (21), uma equipe multidisciplinar do Centro de Assistência Psicológica e Social estará durante toda a semana fazendo atendimento personalizado nas unidades policiais. "Iniciando pelo 27º BPM do Recanto das Emas, após o 9º BPM do Gama, e na sequência nas unidades que se mostrarem mais necessitadas", pontua a comandante.

Abertura do Plano Imediato de Cuidado a Saúde do Policial (PICS), que inclui, a depender da idade, a avaliação psicológica nas avaliações anuais e bienais do efetivo.

Policial militar mata colega dentro da viatura e depois tira a própria vida

O sargento Paulo Pereira de Souza, à esquerda, e Yago Monteiro, à direita.

Reprodução

O sargento Paulo Pereira de Souza atirou no colega de trabalho Yago Monteiro dentro de uma viatura da PMDF na manhã de domingo (14), no Recanto das Emas. Depois, Souza atirou em si mesmo e morreu no local. Yago Monteiro foi levado para o Hospital Regional de Taguatinga (HRT), mas não resistiu.

O sargento Paulo Pereira de Souza, autor dos disparos, trabalhou durante 23 anos na corporação. A Polícia Civil do Distrito Federal investiga se ele estava com problemas de saúde mental.

De acordo com a comandante da PMDF, a informação de que o sargento poderia trabalhar normalmente, constava na sua carteira de saúde. No entanto, Ana Paula Barros Habka ressaltou que as investigações tanto da PCDF, como da corregedoria da PMDF, vão mostrar se ocorreu algum problema depois da junta médica, que possa ter afetado o policial.

Yago Monteiro morreu no Hospital Regional de Taguatinga.

Reprodução/TV Globo

Um terceiro policial estava dentro da viatura. Diogo Carneiro dos Santos foi atingido por estilhaços do para-brisa quebrado por conta do disparo. Ele foi atendido na UPA do Recanto das Emas e liberado.

LEIA TAMBÉM:

Militares dizem que sargento que matou soldado já havia ameaçado outros colegas no DF

Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.
Comunicar erro
SPJ JORNAL 2