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'Me senti desrespeitada', diz advogada do DF chamada de 'feia' por promotor durante audiência

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Por Redação em 25/03/2024 às 08:06:09
Em áudio, é possível ouvir que promotor Douglas Chegury falou para advogada que não a beijaria. Ele diz que foi provocado, mas Marília Gabriela nega e diz que suas colocações na sessão foram apenas técnicas. A advogada Marília Gabriela Gil Brambilla

Reprodução

Uma advogada de Brasília foi chamada de "feia" por um promotor durante uma sessão de Tribunal do Júri na Comarca de Alto Paraíso de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. Ao g1, Marília Gabriela Gil Brambilla afirmou que se sentiu "surpreendida e desrespeitada" com o comportamento do promotor.

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A sessão aconteceu na sexta-feira (22). Em um áudio, é possível ouvir que, durante uma discussão, o promotor Douglas Chegury falou para a advogada que não a beijaria porque, segundo ele, ela era "feia"(ouça trechos abaixo).

"Eu fui surpreendida, não tenho nem palavras pra dizer. [...] Ele falou que eu provoquei, que eu 'caí numa armadilha', não foi nada disso. Minhas colocações foram extremamente técnicas e dentro da legalidade, tanto é que o juiz não me impediu. Não houve absolutamente nada fora da técnica", diz a advogada.

Procurado pelo g1, em Goiás, o promotor argumentou que a advogada tinha intenção de anular o júri e, por isso, o interrompeu por diversas vezes. Também disse que, nos momentos de fala dela, agia com ironia e "mandou um beijo" para ele, momento em que ele disse que não a beijaria.

A advogada Marília Gabriela, no entanto, negou que tenha feito qualquer provocação. Ela afirma que vai tomar todas as medidas cabíveis quanto ao caso. "Eu continuo acreditando nas instituições e acredito, principalmente, no Ministério Público", diz.

Promotor chama advogada de 'feia' e diz que não a beijaria durante audiência

OAB se manifestou

A seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF) repudiou as declarações do promotor e as considerou "misóginas" (veja íntegra da nota ao final da reportagem).

O presidente da OAB/DF, Délio Lins e Silva Jr, afirmou que "é clara a ofensa à advogada e a violação de prerrogativas".

"Não aceitaremos qualquer tipo de violência contra a advocacia e, especialmente, contra a mulher advogada, como neste caso. A nossa diretoria e equipes de Prerrogativas já estão à disposição da doutora Marília para apoiá-la nas medidas cabíveis em âmbito administrativo e criminal", disse Silva Jr.

Em nota publicada no site, a Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO) também repudiou as declarações do promotor (leia íntegra mais abaixo).

Desabafo

Advogada chamada de 'feia' por promotor durante júri diz que nunca viveu nada parecido

A advogada Marília Gabriela Gil Brambilla desabafou sobre o caso nas redes sociais (veja vídeo acima).

"Fiquei preocupada porque aconteceram coisas surreais ontem, durante o plenário de um tribunal do júri. Eu fui ofendida de uma forma que fui até surpreendida pela ofensa [...] eu tenho 22 anos de carreira, isso nunca tinha acontecido", disse Marília.

Confusão e anulação

No áudio, é possível perceber que os ânimos se exaltaram após a fala do promotor. A advogada pediu a anulação imediata do júri e chegou a pedir a prisão dele. Chegury argumentou que também foi ofendido durante a sessão e alguém retrucou, alegando que foram argumentos técnicos.

Neste momento, Chegury disse que também ofenderia tecnicamente e disse que a advogada não era esteticamente bonita. Antes disso, ele também retrucou a advogada, que gritou que havia sido chamada de feia. O promotor perguntou: "Eu menti?".

Após a discussão, uma das juradas se levantou e, por isso, a sessão foi anulada.

O que diz a OAB/DF

"A Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF) repudia declarações misóginas do promotor de Justiça Douglas Roberto Ribeiro de Magalhães Chegury, contra a advogada Marília Gabriela Gil Brambilla, proferidas na sexta-feira (22/3), quando atuavam em julgamento que ocorria no Plenário do Tribunal do Júri de Alto Paraíso (GO).

O promotor referiu-se à advogada criminalista como pessoa "irônica", e afirmou: "não quero beijo da senhora; se eu quisesse beijar alguém aqui, eu gostaria de beijar essas moças bonitas e não a senhora, que é feia…" (houve protestos a essa fala), e o promotor disse: … "mas é óbvio"… "só porque eu reconheci aqui que esteticamente…" …"tecnicamente ela não é uma mulher bonita".

"Não há como tolerar esse comportamento! É clara a ofensa à advogada e a violação de prerrogativas. Não aceitaremos qualquer tipo de violência contra a advocacia e, especialmente, contra a mulher advogada, como neste caso. A nossa diretoria e equipes de Prerrogativas já estão à disposição da doutora Marília para apoiá-la nas medidas cabíveis em âmbito administrativo e criminal, respeitado-se o devido processo legal, ampla defesa e o contraditório", afirmou o presidente da OAB/DF, Délio Lins e Silva Jr."

O que diz a OAB/GO

"A Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO), por meio de suas Comissões de Direitos e Prerrogativas e da Mulher Advogada, repudia as declarações misóginas do Promotor de Justiça, Douglas Roberto Ribeiro de Magalhães Chegury, contra a advogada Marília Gabriela Gil Brambilla, ocorridas na Comarca de Alto Paraíso, no Edifício do Fórum, na sala do Tribunal do Júri, nesta sexta-feira, 22 de março.?

Esta conduta viola a ética profissional e é inaceitável. Demonstramos solidariedade à advogada afetada e reafirmamos nosso compromisso com a defesa da dignidade e dos direitos de toda a advocacia, neste caso, especialmente da mulher advogada.

A OAB-GO irá agir de modo a assegurar uma investigação criminal e administrativa adequada em relação ao ocorrido e a fomentar um ambiente jurídico de respeito e igualdade.

Reiteramos o empenho da Seccional Goiana em erradicar a discriminação e promover a igualdade de gênero na seara jurídica e na sociedade.?"

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