TV NEWS

Regime iraniano respondeu com mais opressão aos protestos incentivados da prisão por Narges Mohammadi

Nobel da Paz à ativista iraniana legitima movimento e renova fôlego das mulheres contra as medidas severas determinadas a quem se rebela contra o uso do véu.

Por Redação em 06/10/2023 às 09:49:58
Nobel da Paz à ativista iraniana legitima movimento e renova fôlego das mulheres contra as medidas severas determinadas a quem se rebela contra o uso do véu. Nobel da Paz 2023 vai para iraniana Narges Mohammadi

O segundo Nobel da Paz concedido em 20 anos a uma ativista iraniana reflete a contínua e corajosa luta no país contra o regime teocrático, que, nas palavras da premiada Narges Mohammadi, propaga propositalmente a cultura de violência contra as mulheres.

"O que o governo não compreende é que quanto mais de nós eles prendem, mais forte nos tornamos", escreveu Mohammadi, de 51 anos, em artigo publicado no mês passado no jornal "The New York Times", de sua cela na prisão de Evin, em Teerã, onde cumpre pena de 10 anos e nove meses .

Ao empreender a defesa dos direitos das mulheres, ela segue os passos de outra ativista agraciada, em 2003 com o Nobel da Paz: a ex-juíza Shrin Ebadi, fundadora do Centro de Defensores dos Direitos Humanos do Irã, do qual Mohammadi é vice-chefe.

O regime vem intensificando ações contundentes contra as mulheres, que no ano passado, se rebelaram contra o rigoroso código de vestimenta, após a morte da jovem de etnia curda Masha Amini, sob custódia policial.

Os protestos se espalharam pelas principais cidades e, por consequência, geraram mais opressão. No artigo do jornal americano, Narges Mohammadi relata nunca ter visto as enfermarias tão lotadas de mulheres presas e espancadas por desafiarem o regime.

"O moral entre as novas prisioneiras está elevado. Todas elas, independentemente da forma como foram presas, tinham uma exigência: derrubar o regime da República Islâmica."

Em ação desde 2006 para espalhar a cultura da decência e do hijab, a temida polícia da moralidade retomou suas operações, após uma breve suspensão com o objetivo de atenuar a onda de protestos.

Paralelamente, o regime faz avançar no Parlamento a Lei do Hijab e da Castidade, estabelecendo multas e penas de prisão a quem desobedecer ao rigoroso código de vestimenta, que será imposto também como critério para a contratação de mulheres.

O projeto de lei foi classificado como apartheid de gênero por oito peritos independentes nomeados pelo Conselho de Direitos da ONU.

Severas punições, no entanto, já estão em ação e expõem o contra-ataque do regime ao movimento desencadeado pela morte da jovem Amini, em setembro do ano passado. A Anistia Internacional relatou a expulsão de mulheres das universidades, impedidas de realizar exames finais, por não usarem o véu. Centenas de empresas foram fechadas por não exigirem o uso da vestimenta.

De acordo com a entidade, mais de um milhão de mulheres receberam mensagens de texto com o alerta de que poderiam ter o veículo confiscado se fossem filmadas por câmeras de vigilância sem o lenço na cabeça.

Por estas razões, embora não resulte nas mudanças defendidas nos protestos, o Nobel da Paz concedido à ativista Narges Mohammadi legitima o movimento deflagrado há um ano no país e renova o fôlego das iranianas.
Comunicar erro
SPJ JORNAL 2