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AcadĂȘmicos e personalidades lamentam morte de Alberto da Costa e Silva

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Por Redação em 26/11/2023 às 13:04:31
O poeta, ensaísta, memorialista e historiador Alberto da Costa e Silva morreu de causas naturais aos 92 anos. Segundo a Academia Brasileira de Letras (ABL), o corpo dele será cremado na segunda-feira (27). O poeta Alberto da Costa e Silva

Guilherme Gonçalves/ABL

Acadêmicos lamentaram, neste domingo (26), a morte do diplomata, poeta e ensaísta Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Aos 92 anos, Alberto morreu de causas naturais, segundo informou a ABL, em sua casa, no Rio de Janeiro.

Merval Pereira, presidente da ABL:

"A morte do Alberto da Costa e Silva tem efeitos múltiplos, todos negativos para a cultura brasileira, que perde um dos seus maiores intelectuais de todos os tempos. Para o estudo da África, o Alberto é um dos maiores, senão, o maior africanólogo brasileiro e tinha uma dimensão histórica, política sobre nossas relações com a África e dava a importância que ela sempre teve mas nunca foi, devidamente, enaltecida como ele fez nos seus livros. Ganhou o Prêmio Camões, que é o maior prêmio da Língua Portuguesa, exatamente por essa especificação da importância da África no desenvolvimento brasileiro. Alberto era um grande poeta, um grande intelectual, um grande diplomata e, internamente, nós da ABL perdemos uma das nossas bússolas. Alberto dava a direção correta, Alberto dava a solução correta quando tínhamos dúvida, Alberto nos orientava na direção certa. Acho que é uma perda que tem consequências graves para a ABL, para a cultura brasileira e para o Brasil como um todo".

Geraldo Alckmin, vice-presidente da República

"Recebi com pesar a notícia do falecimento do Embaixador Alberto da Costa e Silva, um dos maiores diplomatas de sua geração e um dos mais influentes estudiosos da cultura africana. Seja pelos postos que comandou na África ou pelos brilhantes livros que escreveu e organizou, Costa e Silva aproximou como poucos as duas margens desse rio chamado Atlântico. Meus sentimentos ao Embaixador Pedro Miguel, aos seus amigos e familiares".

Marco Lucchesi, acadêmico da ABL:

"Alberto da Costa e Silva não devia morrer, não podia morrer. Um homem profundamente apaixonado pela vida, pela cultura e pela liberdade. Alberto é uma espécie de grande maestro que regia instrumentos de uma orquestra que ele guardava dentro de si. A poesia, a memória, a literatura, a história. Era um grande maestro que tinha a poesia como centro e como base. Também olhava para o Brasil e África e acreditava que a África seria capaz de aprofundar e ilustrar o conhecimento do próprio país. Não era o Atlântico que nos separava enquanto oceano, mas era simplesmente um rio chamado Atlântico. Ele buscou nas duas margens compreender esse Brasil profundo. Alberto da Costa e Silva um dia estava ouvindo Bach, a "Paixão Segundo São Mateus ", e ele que não acreditava em Deus disse que, talvez naquele momento, havia uma hipótese que ele recusava de imediato de acreditar em Deus. Se ainda houver em algum ponto do universo Deus e a música de Bahr, Alberto vai se apresentar diante dos dois e dizer que a sua vida não foi inútil. O compromisso com o país foi profundo e que sua vida deixa um legado luminoso para todos nós".

Muniz Sodré, jornalista e sociólogo:

"A passagem de Alberto da Costa e Silva é uma perda para o conhecimento latino-americano da África. Mas Alberto da Costa e Silva não é apenas, nem foi apenas, um dos mais importantes historiógrafos, cronistas ou historiadores desse continente. Alberto da Costa e Silva foi um intelectual que revisitou a África como um teatro de sombras do pensamento ocidental. Alguém que escrevendo resistiu às tentativas de objetificação do homem africano porque via ali uma outra humanidade. Uma humanidade potencial com repercussões sobre o resto do mundo. Especialmente, sobre a formação do povo, sobre a formação da nação brasileira. E isso com uma prosa exemplar, com uma poética invejável que tinha Alberto da Costa e Silva. Eu acho que é como esse ancestral da escrita sobre a África que ele vai permanecer em nossa memória".

Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República:

"Muito triste com falecimento do grande embaixador, grande escritor, grande pensador, Alberto da Costa e Silva. Convivi com ele em vários momentos da minha carreira. Ele foi um excelente promotor de atividades culturais em Roma, quando eu era chefe da divisão cultural, inclusive, com uma tradução do Monteiro Lobato. Depois ele foi embaixador da Nigéria, quando se tornou um grande especialista em África, certamente já era. Era um poeta também. Convivi com ele quando fui ministro do presidente Itamar e ele era embaixador na Colômbia quando nos ajudou a criar a comissão de vigilância entre o Brasil e a Colômbia. Sempre me pareceu uma pessoa extremamente hábil, firme e hábil ao mesmo tempo. Por isso, o enviei para um país em que as relações são sempre complexas que é o Paraguai. Lamento até não ter convivido mais com ele, depois se tornou um acadêmico. Continuei mantendo boas relações. E ele é uma fonte de inspiração para todos aqueles que amam a África, que querem uma política externa do Brasil condizente com as nossas origens africanas, inclusive, o livro muito famoso "Um Rio chamado Atlântico" e a "Enxada e a Lança".

Diplomata especialista na cultura africana

Além de diplomata, Alberto da Costa e Silva atuou como poeta, ensaísta, memorialista e historiador. O trabalho dele foi importante para o desenvolvimento de estudos sobre o continente africano. Ao todo, ele foi autor de mais de 40 livros, entre poesia, ensaio, história, infanto-juvenil, memória, antologia, versão e adaptação.

O poeta Alberto da Costa e Silva

Guilherme Gonçalves/ABL

Muito ligado a cultura e a história africana, Alberto Costa e Silva teve seu primeiro contato acadêmico com a África através do livro Os Africanos no Brasil, de Nina Rodrigues, e Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre.

Sua primeira viagem à África ocorreu no início de sua carreira, quando integrou a comitiva do ministro das Relações Exteriores Negrão de Lima, representante do Brasil nas cerimônias de independência da Nigéria, em 1960.

Alberto também se formou Doutor Honoris Causa em Letras pela Universidade Obafemi Awolowo (ex-Uni­versidade de Ifé), da Nigéria, em 1986.

Por conta de sua carreira acadêmica e seus trabalhos sobre a história africana, em 2014, o diplomata recebeu o Prêmio Camões. E em 2003, o Prêmio Juca Pato.

Além de embaixador na Nigéria e no Benin, Alberto também foi embaixador em Portugal, entre 1986 e 1990, na Colombia, entre 1990 e 1993, e no Paraguai, entre 1993 e 1995. Já entre os anos de 1995 e 1998, o ex-presidente da ABL foi Inspetor-Geral do Ministério das Relações Exteriores.

Ex-presidente da ABL

Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000, Alberto foi o quarto ocupante da cadeira nÂș 9, na sucessão de Carlos Chagas Filho.

O diplomata presidiu a ABL nos anos 2002 e 2003. Na academia, ele também ocupou os cargos de secretário-geral, primeiro-secretário e diretor das bibliotecas. Era também Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa da História.

Nascido em São Paulo, no dia 12 de maio de 1931, Alberto morou em Fortaleza, onde fez o ensino primário e secundário. Em 1943, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde se formou pelo Instituto Rio Branco em 1957.

De acordo com a ABL, o corpo de Alberto será cremado na próxima segunda-feira (27). Não haverá velório e a cerimônia de cremação será apenas para a família.

Alberto da Costa e Silva deixou três filhos - Elza Maria, Antonio Francisco e Pedro Miguel – sete netos e uma bisneta.
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